domingo, 24 de junho de 2012

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     E novamente eu penso que não tem nada aqui. Não tem nada nas páginas da internet abertas esboçando seu perfil. Não há nada nas fotos antigas. Nada nas musicas que escutávamos. Que intitulávamos como nossas. Nas frases do Caio Fernando Abreu para que eu possa me segurar, nada nas roupas, nenhum cheiro seu. Nada na carta, nos bilhetes. Nada nos livros nas prateleiras. Não há nada em lugar algum. A não ser a saudade, que ainda esmaga forte no peito como milhares de apunhaladas que doem de verdade. Eu passei dias chorando sem saber que estava chorando, só agora, transbordando em lágrimas quentes eu sei que chorei de verdade, durante dias, e nem sabia.
    É difícil saber, mas dói todo esse afastamento, essa coisa de se fazer de durona, puxar as próprias rédeas e não se permitir estender a mão para te tocar. Como uma criança levando um tapa na mão por querer o doce, não toque no doce, alerta a mãe. E eu sofro como uma criança, por que eu não entendo essa proibição. Quando irei entender?
    Sou eu mesma que me proíbo. Nos proíbo. Só para não me doer, te doer, me arder.
    Mas me doou mesmo assim.
    É difícil olhar suas fotos e não entender por que eu ainda gosto tanto de você.
    Gosto mesmo?
    Não sei.
    Mas se dói tanto, difícil achar que não.
    Quando alguém te faz sentir tantas coisas assim, esmagadoras, vorazes, é difícil achar, mesmo que por um segundo, que é mera bobagem.
    Sem mover um músculo, eu não me movo na minha divagação solitária, faço cara de paisagem, choro baixinho, caminho até a cama e me escondo embaixo das cobertas. O coração? Um cactos retorcido, aspinhaçado, cheio de espinhos, de buracos verdes, queimaduras do sol, um vegetal dolorido. Chorando pela proibição do sentir.

Annabel Laurino.

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