E novamente eu penso que não tem nada aqui. Não tem nada nas
páginas da internet abertas esboçando seu perfil. Não há nada nas fotos
antigas. Nada nas musicas que escutávamos. Que intitulávamos como nossas. Nas frases do Caio Fernando Abreu para que eu possa me segurar, nada nas roupas, nenhum cheiro seu. Nada na carta, nos bilhetes. Nada nos livros nas prateleiras. Não
há nada em lugar algum. A não ser a saudade, que ainda esmaga forte no peito
como milhares de apunhaladas que doem de verdade. Eu passei dias chorando sem
saber que estava chorando, só agora, transbordando em lágrimas quentes eu sei
que chorei de verdade, durante dias, e nem sabia.
É difícil saber,
mas dói todo esse afastamento, essa coisa de se fazer de durona, puxar as
próprias rédeas e não se permitir estender a mão para te tocar. Como uma
criança levando um tapa na mão por querer o doce, não toque no doce, alerta a
mãe. E eu sofro como uma criança, por que eu não entendo essa proibição. Quando
irei entender?
Sou eu mesma que me
proíbo. Nos proíbo. Só para não me doer, te doer, me arder.
Mas me doou mesmo
assim.
É difícil olhar
suas fotos e não entender por que eu ainda gosto tanto de você.
Gosto mesmo?
Não sei.
Mas se dói tanto,
difícil achar que não.
Quando alguém te
faz sentir tantas coisas assim, esmagadoras, vorazes, é difícil achar, mesmo
que por um segundo, que é mera bobagem.
Sem mover um
músculo, eu não me movo na minha divagação solitária, faço cara de paisagem,
choro baixinho, caminho até a cama e me escondo embaixo das cobertas. O
coração? Um cactos retorcido, aspinhaçado, cheio de espinhos, de buracos
verdes, queimaduras do sol, um vegetal dolorido. Chorando pela proibição do
sentir.
Annabel Laurino.
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