Então a vida era quase sempre a mesma. Uns casos de amor aqui e acolá. Nada surtia mais efeito. Como vacina de gotinha para quem já havia furado o braço de lado a lado. Como arranhar o braço para quem já havia quebrado a perna. Tudo repetitivo, um script inteiro decorado. Sabia as falas. Sabia o fim. Não se surpreendia. Olhava em volta e até mesmo as cinzas de um final de domingo eram as mesmas. Repousada na cama quente, um livro aberto no meio das pernas grossas, um café ao lado e se perguntando por que a vida não tomava jeito de lhe surpreender. Criticava-se constantemente e procurava elogios para receber. Seus amores platônicos sofriam porque não sabia ser platônica. Sua sorte não recobrava-a de lucros porque ela não sabia ter sorte, adivinhava constantemente o futuro. Não sabia viver. Era chato. Tudo parecia vago. Até esses pensamentos meio que bifurcados, sempre aos finais de domingo, repousada na cama do quarto tentando saber o que fazer assim que o dia acabasse. Ou o novo dia começasse. Enfim.
Annabel Laurino.
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