Uma sofreguidão lenta se apossa de mim nesse momento. Como
um pedaço de alguma coisa grande da qual entala na garganta, estranha. Minuciosa
e mansa, seus dedinhos finos e pequeninos dedilham minha face na tentativa de
descobrir até mesmo minhas feições mais secretas, para destruir-me aos poucos.
Tenho muito medo de toda essa sensação. Pois é incrivelmente familiar,
uma tristeza funda que se instalou no peito, um choro engasgado, entalado e
aperfeiçoado dos mais profundos soluços.
Desistência.
De tudo, de tudo
que se pediu, que se quis e não veio ou se veio não foi como o esperado.
Vontade de chorar e chorar, de pedir que o
tempo pare só para refletir melhor.
A sensação é quase a mesma de comprar uma
roupa nova e quando chegar em casa vesti-la e perceber que ela não era tão
bonita assim, talvez nem mesmo servisse tão bem assim. Enganada e triste, sinto
vontade de me jogar na cama e chorar horas a fio e tentar retroceder esse medo
de mim mesma, essa angustia. Sou cruel, já disse, tenho medo disso, desse
alento todo de podar relações da qual me sufocam sem a maior piedade, e então
afundar em uma fossa de dar gosto durante, digamos assim, meses.
Por favor, repito
constantemente, haveria como só por um momento que alguém acendesse a luz desse
coração escuro e me mostrasse à direção?
Dizem que quando tomamos uma decisão ela deve
ser seguida até o fim, que se deve passar por cima de todas as dificuldades e
tentar, com todas as forças.
Mas não sei se
encontro isso agora dentro de mim, é difícil dizer. De tudo que eu esperava
fazer, lutar era o menor item da minha lista no momento. Não por preguiça ou
por incapacidade, mas chega um momento que você já lutou de mais, que você
esbravejou de mais, que você não quer mais promessas não cumpridas, não quer
mais sair por ai carregando ninguém nas costas ou esperando o melhor de tudo e
alguém. Chega um momento que você automaticamente quer e pronto, quer agora,
quer o bom, o melhor. Claro que você quer lutar. Eu quero lutar. Mas não
sozinha, de novo. Não dessas maneiras tortas que sempre acabo mal.
Não quero ver o
mesmo filme novamente. Posso estar errada, sei que posso. Mas não correrei o
risco de jogar tudo para cima e vendar os olhos, de novo não. Nem mesmo que eu corra
o risco de passar semanas em uma terrível tristeza, nem que eu me perca
novamente dentro de mim mesma, nem que eu chore até me acabar, nem mesmo que eu
tenha que me sentir tão terrivelmente só a ponto de me ferir, nem que seja
triste e lamentavelmente angustiante.
Não
correrei o risco.
Annabel Laurino.
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