terça-feira, 13 de março de 2012

Primitividade a flor da pele

    Não é que você precise de alguém. Não é que você queria que se importem com você, que te liguem, que te procurem, que queiram saber pelo menos se você está viva. Não é bem isso. Não é de atenção em si que se precisa. Por que no fundo você entende que, na verdade, não tem importancia mesmo que alguém esteja te ligando e te procurando porque, por experiência própria, você sabe que isso tudo não conta depois, quando te abandonam, quando as pessoas decidem por elas mesmas se mostrar quem são e colocar as cartas na mesa. E você já desacreditou das pessoas, a muito tempo.
    Mas embora isso, embora isso tudo, você bem que se sente um tanto sozinha, perdida entre aquela linha fina e solitária, esperando que o telefone toque ou que alguém bata na sua porta de surpresa trazendo uma caixa de bombom embaixo do braço e pedindo, com carinho, para ser sua companhia da tarde. Bem que você queria sentir o calorzinho de outro corpo embaixo do edredom em uma tarde chuvosa, ou ter uma mão para segurar no dia em que tudo vai mal que o choro simplesmente se desprende da garganta e você parece uma criança prestes a tomar uma injeção. É natural, todos precisamos de alguém. É primitivo, você pensa.
    Mas logo tanto faz. O telefone não toca, a campainha esta intacta, intocável. A caixa de e-mails somente cheia de anuncios e promoções de livros, uma unica caneca de café ainda pousa em cima da mesa, mais um capitulo escrito e mais uma vez, desiludida, cheia de si, você se fecha em sua cabaninha de idealizações e pensa: Não preciso mesmo de nada disso.

Annabel Laurino.
   

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