E tudo era um
sabor estranho. Ela suando, sentindo sua pele escaldada em chamas ardentes que chamuscavam
e escapuliam para fora de seus poros mais ardentes. Mãos estranhas vagavam
sobre suas coxas grossas, seus braços pequenos, e tudo gritava, era noite e
tudo tinha um sabor estranho. O arfar nervoso grunhia para fora de seus lábios
tingidos de cor de rosa, o ambiente era quente, tinha cheiro de menta doce com
vento fresco preso nas janelas negras de um carro qualquer. E tudo virava,
parecia que o mundo virava também. A música escapulia como louca, nem parecia
mais música, parecia que saia de dentro dela. Uma batida fervente, acrescentada
a um segundo a mais e logo o mundo já estava diferente outra vez, parecia que
escorria de algum lugar e se filtrava, se renovava e vinha reforçadamente
insano. O suor escorria desde as veias mais azuladas dentro daquele corpo
branco. Sem contar no outro corpo também. As chamas eram claras, e o pedido era
simples: Me consuma agora e depois suma.
É só agora. De repente ela começou baixinho como quem cantarola o hinário
da igreja de domingo, mas não era o hinário e nem uma poesia antiga de seus
livros envelhecidos e bolorentos, era algo mais batido e chocante, era algo
mais ever-agora, de momento, sabe? Era rock and roll puro e de repente, só de
repente ela descobriu o sabor. E não era doce, nem amargo, mas era
incrivelmente quente. Incrivelmente errado e louco.
Annabel Laurino.
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