quarta-feira, 6 de julho de 2011

Todo mundo tem.

    Todo mundo tem medo de alguma coisa. Todo mundo, eu também.
    A pergunta espiralasse no ar, assim: “O que, que eu to fazendo?”
    Enquanto eu lambo delicadamente a ponta da colher suja de sopa instantânea de frango, ainda quente por que fora recém tirada da tigela, e fico olhando o filme em preto e branco passando no canal de filmes antigos e vendo aquelas cenas tão remotamente vividas mesmo pela falta de cor penso que as coisas estavam indo bem, eu estava indo bem... Mas...
    Há algo em mim, algum caminho suntuoso e singelo, secreto que nem mesmo eu conheço que diz “venha” quando eu já não posso mais resistir, me impedindo de caminhar até o ponto certo do modo mais fácil.
    Eu tenho medo só de pensar em estragar com tudo, sabe como é, perder as chances quando elas estiverem bem na minha mão. Daí, dez anos depois eu vou me tornar uma idiota amargurada parada na fila da padaria fumando um cigarro barato que amarela até os últimos fios de cabelo, vestindo uma calça de abrigo suja há semanas e um moletom de magas puídas esfarrapado e sujo de manteiga com a frente escrita “você sabe que me ama”, gritando com as pessoas e odiando a mim própria por ter sido estúpida e não ter feito as coisas certas enquanto ainda tinha tempo de fazê-las. Até mesmo a menção do pensamento em escrito faz a idéia parecer ainda mais aterrorizante.
    Eu tenho medo de um turbilhão de coisas.
    Tenho medo de passar a idéia errada, daí afastar. Tenho medo de caminhar por caminhos que não deveria caminhar pensando serem certos. Tenho medo de acordar em um dia pela manhã quando eu já tenha feito de tudo e me sentir... vazia.
    O medo paralisa. Esse é o problema. É aquela droga de matéria que você tem que estudar, aquele encontro para ir com aquela pessoa que você estava cuidando a mais de semanas, aquele emprego novo que surgiu, aquela chance de mostrar que você é capaz, aquele negócio pra fazer, aquela música nova para aprender... Então você sente que não é capaz.
    Mas, que droga, quem foi que disse afinal? Quem disse o que é errado? Quem disse que não? Quem disse pra parar? Quem?


Annabel Laurino.

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