quarta-feira, 6 de julho de 2011

Cicatriz

    Um brilho. Pequeno, muito pequeno, mas é nítido mesmo assim. Ele sai da pontinha redonda e achatada da sua caneta dourada refletindo na luz acima de sua cabeça e dançando no ar denso e quente e remotamente limpo. Que coisa engraçada! Eu nem o conheço.
    Mas seus olhos me olham assim e eu sorrio.
    Que coisa pare de fazer isso, eu penso.
    Eu não iria embora, se não precisasse ir.
    Mas eu preciso.
    Sua pele é branca, quase cinza, seus olhos são castanhos claros quase verdes. Suas mãos são compridas, brancas e gélidas e eu me pergunto por que você rói as unhas, por que seu cabelo é tão bagunçado e se a cicatriz no lado esquerdo de seu pescoço é seu único defeito.
    Não é uma cicatriz grande, é pequena, branca da cor de sua pele e ela nem parece uma cicatriz, parece uma distorção na sua pele perfeita, como se alguém houvesse lhe beliscado forte e puxado a pele para cima até marcar.
    E você me olha.
    Meus olhos estão marcados pelos seus.
    E agora nós dois fomos marcados por alguma coisa. Minha cicatriz é invisível. Branca e reluzente, apesar de que ninguém possa vê-la. É uma idéia apenas, compartilhada da lembrança de te ver.
    E eu guardo aqui.

 
Annabel Laurino.




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