É difícil dizer. Eu queria ser aquela garota que fosse convidada para alguma coisa. Nem que fosse para sair e ver a monotonia da vida, da cidade, das árvores, do tempo. Eu queria isso. Queria ser a garota que tivesse um beijo roubado, a mão pega por cima da mesa, o olhar encontrado, uma flor recebida, uma carta guardada. Eu queria ser a garota que roubasse o coração de alguém, que roubasse o tempo de alguém. Queria ser o pensamento incessante e provocante. Queria ser a garota cujo motivo tiraria o sono, roubaria horas de pensamentos confusos, o motivo de pensamentos imaginativos, doidos. Queria ser aquela garota que arrancaria sorrisos, faria as horas passarem sem serem percebidas ou contadas. Eu queria ser o motivo de alguém olhar o celular a cada minuto pra ver se uma mensagem minha chegou, pra ver se liguei, se me importei. Queria ser para alguém o motivo de acordar sorrindo, de pular da cama e pensar em mim, queria ser a luz do dia, o aconchegar da noite, a solução da mesmice, o grito no silêncio, o abraço esperado, a saudade correspondida, o aperto no peito, a vontade mais louca, o lado mais puro, a alegria constante. Queria ser aquela pessoa que esse alguém largaria tudo, deixasse tudo pro ar, que esquesse o mundo por mim, pra fugir, pra me encontrar.
Eu queria ser. Não sou.
Annabel Laurino
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