Foi exatamente a duas noites atrás.
Estava extremamente frio, por volta de duas e pouco da manhã.
Aconcheguei-me em minha confortável e tépida cama, e virei ao lado de sempre e fechei os olhos esperando para que o sono me visitasse e dominasse minha noite. Passou-se um breve tempo então comecei a sentir de que estava estranhamente nostálgica, e assustadoramente feliz ao mesmo tempo.
Foi como se o mundo em meus olhos se abrisse, como se eu tivesse descobrindo algo, como se estivesse começando um filme em uma tela de cinema. Não haveria motivos pra me sentir assim. Lembro-me de ter ido dormir sem pensamentos, ou melhor, sem nada em mente para que me preocupa-se.
Então senti que estava correndo em algum lugar, era tão real que até mesmo posso descrever.
Eu corria em um campo, era vasto e era coberto das mais belas árvores e dos mais diferenciados frutos, eram lindos e brilhantes, coloridos e perspicazes, o sol radiava em minha pele e a luz tornava-se mais cálida a cada instante, e eu corria com meu vestido rosa celeste estranhamente pomposo e sedoso. Podia ver por sobre meu ombro que caia mechas de meus cabelos que agora se tornavam cacheados e presos por fitas creme em seda, e eu corria em uma direção incerta, mas podia sentir que estava sorrindo e às vezes ria alto, posso dizer que durou pouco esses fatos, pois enquanto corria, eu pude perceber que não me encontrava só, aquele campo lindo e celestial, deixou em um segundo de ser o que era, por que no instante em que meus olhos encontraram os dele é como se o céu tivesse sucumbido de onde estava, é como se tudo á minha volta tivesse se perdido ou nunca tivesse existido, como se eu nem lembrasse quem eu era, eu poderia matar por aquele olhar, poderia jurar que sempre em toda minha vida só olhei aquele olhar. Era um brilho intenso que se irradiava em tudo, aqueles olhos, aquele olhar é como se me agarrassem pelos meus pés e não me permitissem me mover. Senti meu coração apertar. Ele sorriu, e quando sorriu foi como se roubasse todos os brilhos das frutas e do sol, é como se estivessem sempre ali, naquele sorriso. Ele vestia uma camisa branca entre aberta no peito, calça e sapatos. Sua camisa deixava transparecer uma parte se sua pele dourada, diria suavemente bronzeada, seus braços fortes e sua altura de longe incomparável com a minha, digamos minha falta de altura. Seu rosto é como se tivesse sido desenhado em uma beleza que jamais pude ver, as maças de seu rosto coradas e maciças, seu cabelo mais parecia como um veludo que transparecia a luz do sol. Eu observei e me perdi enquanto assim corria e olhava pra ele. Era irresistível não olhar, é como ter em mãos o maior tesouro da terra e não poder desfrutá-lo.
Eu parei de correr assim que cheguei a uma fonte, que jorrava água cristalina e me sentei á beiro, então levei a mão á água e molhei meu rosto, ele que me observava tomou lugar ao meu lado e esperou um instante, logo levou a mão por sobre meu queixo como se o segurasse, mas com a maior sutileza possível, e com a outra mão passou-a pelo meu rosto como se secasse as gotas restantes de água, fez isso sorrindo e eu permanecia-me imobilizada, admirando aquele sorriso, aqueles olhos, aquela perfeição jamais vista. Ele então segurou a minha mão, eu queria falar, queria perguntar onde esteve, queria dizer que senti sua falta, mas que sinto ainda a sua presença, queria explicar como me sentia, mas minha boca estava rígida, sabia que se tentasse falar, nada sairia, era demais pra mim, vê-lo assim tão perto, tão real.
Ele não falou nada, apenas pegou as minhas mãos e as segurou, levou-as aos seus lábios que as beijaram. Seus lábios eram cálidos, e macios, de uma cor perspicaz. Depois que as beijou, chegou perto de mim, e beijou-me os lábios. Seus lábios, poderia jurar que estava no céu quando os senti, não há nenhuma outra sensação que já se foi provada que explicaria o fato de beijá-lo. Um beijo doce, quente, e suave. Suas mãos afagaram meu rosto e de leve passavam por ele, senti que precisava respirar, mas não sentia necessidade por completo.
E quando terminou de me beijar, sorriu, sorriu e me abraçou, pude sentir seu cheiro, era uma lembrança incomum de lilás, de amora, de mel, de nuvens, de sol, de calor. Eu me senti inteiramente limpa da cabeça aos pés, não havia uma parte em mim que não se sentisse inteiramente leve e inexplicavelmente feliz. Queria correr mais ainda do que havia corrido, era como se aquele beijo, aquele abraço tivessem despertado em mim uma vontade imensa de viver, como se tivessem acendido uma chama chamada vida dentro de meu peito. Senti-me ainda mais segura, como se nada no mundo pudesse me tirar dali, senti tanta proteção que meu peito doeu.
Ele então esperou para que eu dissesse algo, me olhava sem seu sorriso, mas seus olhos por si sorriam, então olhei fixamente para minhas mãos, aflita por que precisava falar e sabia que se eu olhasse novamente aqueles olhos perderia o fio de meus pensamentos. Então eu disse:
- Desculpa... Eu... Sinto muito... Mas... Eu não sei... .
E parei, não consegui, juro que queria me matar por ser tão burra, mas ele suavemente pegou meu queixo moveu meu rosto na posição de que meus olhos olhassem os seus. E falou:
- Meu bem, não precisa ficar assim, eu sei como tu te sentes, sei por que sinto o que sentes. Tens perguntas há me fazer, eu sei quais são, digo não te deixei, eu estou presente, mais ao seu lado do que nunca. Possuis suas duvidas, entendo, mas digo que não é à hora de respondê-las. Sei que estais com medo de que esta seja a ultima vez que me verás, mas não será. Digo está é a primeira de muitas. - inclinou-se para perto de meu ouvido e sussurrou- Eu prometo, nunca irei lhe deixar, tu és uma parte de mim agora.
Aquele sussurro provocou calafrios em minha espinha e meu coração pulou do meu peito.
Então ele selou as palavras com um beijo no alto de minha cabeça e sorriu enquanto se afastava.
Eu queria perguntar tantas coisas, de onde ele veio, quem ele era, qual seu nome, o que fazia aqui, como assim sempre ao meu lado.
Mas foi tão rápido que de um segundo á outro eu senti que aquele paraíso desbotava-se de suas cores, e ele desaparecia, senti sua mão sumindo de sobre a minha, e eu queria gritar, mas acho que o espanto de meu rosto já explicava, e ele continuou sorrindo mesmo desaparecendo. Lembro-me que disse: - primeira de muitas.
Eu queria gritar e exigir que ficasse, que me explicasse.
Mas um tormento tomou meu peito e então, cai por sobre meu corpo, meus olhos despertaram de súbito, pulei da minha cama e estava em meu quarto, cercada de paredes verdes e quadros emoldurados, pude ver as pestanas da janela jorrando a luz do sol de mais um dia de outono. E pude sentir uma tristeza que invadia minha alma.
Percebi que não passara de mais um sonho. Foi tão rápido, mais uma vez foi-se horas, uma noite inteira sonhando com ele, eu queria voltar a dormir e ver se conseguiria reconciliar meu sonho, mas perdi a esperança quanto a isso, toquei meu rosto e pude vislumbrar que lagrimas caiam de meus olhos, mas logo depois eu vi que ele me prometera, que ele dizia que estava comigo, abracei meu corpo e chorei, lagrimas de felicidade, pois mais uma vez eu havia sonhado com o meu anjo.
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