As coisas fluem. A vida é fluido das veias do tempo. Tudo acontece em questão de segundos. E é só preciso um segundo para que tudo deixe de existir.
Eu vi o tempo brincar na gangorra com o amor. Eu vi muitas coisas. As pessoas indo e vindo e eu ficando sentada no mesmo banco da estação enquanto o trem nunca vinha. Eu vi o sol renascer inúmeras vezes e contei gotas de chuva escorrendo frias pela janela de um quarto.
Conheci o que é saber deixar ir e deixar ser e let it be, let it be.
Foi difícil, difícil como ensinar para uma criança que ela não pode sonhar com super heróis, papai noel, princesas e castelos com dragões imensos. Veio da minha essência acreditar em tudo, não querer me despedir daquilo que eu amo, não querer deixar passar.
Mas uma hora dessas a gente vai aprendendo com os socos que a gente ganha e uma dessas a gente aprende a ficarmos quietos e distantes. Respira irmão, respira. Deixa estar.
Não me entristeci mais por ver muita gente indo embora e deixando de gostar de mim pelo o que eu realmente sou. Não me entristeci porque aprendi que quem te ama de verdade segura tua mão até o fim e nunca vai deixar de te amar por qualquer coisa como uma avalanche deslanchando ou um temporalzinho de verão. Então eu só fiquei quieta e deixei que eles fossem, deixei que não gostassem mais de mim, deixei.
Alguns erros foram desnecessários, outros sobretudo em vão. Mas eu aprendi com eles, aprendi até mesmo a nunca mais comete-los. Foi o que restou para pensar nas noites sem o sono vir.
Sonhos eu tenho alguns, desejos eu tenho sempre. Mas não te contarei todos. Te direi apenas que me faz falta alguém por aqui, alguém firme e estável, espalhando flocos de luz e me deixando provar uma réstia de gosto bom do que é compartilhar a vida e dividir momentos, segredos, coisas assim. Ouvir e contar histórias. Ser e dar o bem.
Não, eu não chorei mais. De vez em quando somente, quando vejo algo bonito, eu choro. Algo que me emocione a alma. Um casal feliz, uma família bonita, um filme romântico, uma musica, um cheiro, uma lembrança e alguns momentos introspectivos.
É mentira quando eu disse que continuava a mesma. Não continuo. Na vida tudo flui, como disse Heráclito, tudo é ciclo. Eu sou um ciclo pensante e que me altero conforme as conotações da vida. Tive que mudar, foi preciso. Mas não vi e nem sei quando me ocorreu essa mudança, quando foi que me dei por mim mudada. Aconteceu como acontece de uma árvore perder suas folhas secas e depois em outra estação estar cheia delas, lindas e verdes. Não sei qual das árvores eu sou agora, a seca ou a exuberante árvore primaveral.
As vezes penso que sou a seca, com meus ramos desnudos sobre um sol de inverno, esperando o cantar dos pássaros, o calor da estação próxima, e então eu poderei me encher de ramos e folhas e me cobrir de luz, novamente.
Tudo flui, e fluirá uma hora de eu ser outra coisa além dessa e de novamente não estar mais como era antes.
Perdendo folhas secas ao vento, ganhando novas quando a próxima estação chegar.
Annabel Laurino
Nenhum comentário:
Postar um comentário