Finalmente fiquei sozinha. É quase algo irreal, sutil, não totalmente bom, mas agradável depois de tantos dias na companhia da família. Eu estava realmente precisando respirar. Você sabe, todos nós precisamos as vezes.
E agora sozinha em casa, com o ventilador de torre ligado, zumbindo fraquinho, as luzinhas da arvore de natal e, nada mais. Nada, só os tique taque das teclas do computador sendo apertadas.
É um novo dia e também um novo ano. O dia não poderia ter sido mais perfeito. Frio. Não um frio congelante ou realmente um frio, mas um dia com um vento gelado, pude até ousar em colocar aquele meu lenço florido envolta do pescoço. Pude até tomar muitos cafés e sair a noite de jaqueta, caminhando feliz pela rua sem me preocupar em suar.
Falar destas coisas tão simples faz bem. Coisas que acontecem sem pretensão, por pura sorte do acaso. É como o filho esperado na barriga de sua melhor amiga de infância ou o beijo roubado na boca do namorado dentro do carro do pai, as pipocas encharcadas de Zazon e piscares de olhos com delineador de gatinho em frente ao espelho.
Tenho tantos planos para este ano. Mas não vou ousar em te contar, tem aquela coisa meio supersticiosa e enfadonha de que talvez, só talvez, alguns deles não se concretizem. E eu não quero me dar ao luxo de me decepcionar. É por isso que eu deixo todos eles guardadinhos, ninguém precisa saber. Mas tenho uma urgência em ser feliz logo, sabe, realizar de uma vez por todas todos aqueles sonhos que ficaram até agora guardados dentro do bau.
Não sei porque te escrevo essa carta. Eu to sozinha em casa, como eu já disse. E comecei a pensar em um série de coisas, coisas que vem acontecendo. E eu sei que 'coisa' é um marcador de posição, não define nada, é como uma ilha no meio do oceano sem nem ter uma localização direta. A verdade é que tudo vem mudando. E eu escrevo mais é para te dizer que estou entrando nessa nova fase, cheia de folhas cheirosas de livros, cafés amargos e uma cabeça tinindo prontinha para ser usada. Estou com o espirito leve, cheio de fome e necessitando muito de bons fluidos, paz e sentimentos bons, que recarreguem. Sei que você entende. É uma daquelas fases de transição. Aquelas que eu sento no sofá da sala, sozinha em casa, e escrevo durante horas , que eu me permito me sentir só e nem se quer consigo, porque me sinto cheia de mim mesma e de todas as maravilhas divinas. Aquele momento em que a criatividade flui pelas veias e eu me liberto. De mim mesma e dos meus medos, dos medos desse mundo. Crescendo ao poucos. Você entende?
Eu sei que você entende. É por isso que eu te escrevo.
Annabel Laurino
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