Diversidade em anonimato
Eu queria uma coisa deliciosamente secreta que ficou esquecida por cima de algum muro por ai, meio perdido, em algum lugar deliciosamente secreto, entre algumas árvores e vigas, entre alguns emaranhados de complicações desconhecidas e outras conhecidas de mais até que se tornaram cansativas. O importante e o fato era que eu queria essa coisa que não poderia mais ser adiada nem se quer em um espaço curto de tempo. Eu queria e ponto. Algo que se alastrava mansamente conforme os olhos decorriam a solta as multidões no calçadão da cidade ou as propagandas de filmes nas televisão. Nada consumista ou ganancioso. Estava lá para quem quisesse ver muito mais amostra do que uma roupa cara numa vitrine de luxo. As mãos dos casais entrelaçadas, os olhares anônimos cheios de uma compaixão ou desejo únicos, as conversas e os risos, o jeito todo como tudo fluía num determinado lugar e espaço, as pombas gurnindo na calçada, os velhos sentados em seus bancos com o sol batendo sobre a boina cinza e ruida do tempo, as senhoras passando em frente a igreja e fazendo o sinal da cruz, as outras mais senhoras ainda trocando confidencias de algo importante, uma receita de bolo ou torta, o ponto certo no crochê, não sei, e há os jovens e suas tecnologias, caminhando com os celulares enfiados na frente do nariz e as mulheres com suas bolsas coloridas presas ao corpo, os quadris bamboleando ao passo apressado, algumas sozinhas, outras acompanhadas. A diversidade sem fim.
Eu queria estar lá dentre todas as coisas daquelas pessoas, enxergar por trás das mascaras em que se escondiam, entender seus gestos e o que as motivava de estarem ali naquela hora do dia. Eu queria aspirar uma essência unica que ficava refletida nelas e talvez poucas percebiam. Eu só queria entender um pedaço do desconhecido mundo das pessoas a minha volta, talvez assim, eu, aos poucos fosse me entendendo melhor e aspirando a minha tão estranha forma de viver e conhecendo o meu anonimato ainda desconhecido.
Annabel Laurino
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