Eu me proponho a carregar quase todo o peso dos amigos que eu conheço. E não me vanglorio por isso. Depois que eu faço, eu logo esqueço. Eu realmente fico ao lado ajudando a sustentar o fardo, e se caso eu não consiga levar uma pontinha da carga eu fico ali, dizendo palavras que deem força, e quando a madrugada surgir fria eu estarei lá com o meu abraço mais quente para reconfortar os ombros cansados e enxugar as lágrimas mais doloridas.
Não há necessidade de me pedir. Simplesmente estarei lá oferecendo conforto, nem que seja um lenço para guardarem no bolso quando tudo virar tormento. Mas eu estarei lá.
É algo meu, não sei. Não há forma de eu ser indiferente a essa natureza tão delicada que somos nós e não me compadecer, não querer me aproximar e tocar no rosto daquele que se sente frágil, cansado.
As vezes parece que eu me doou de mais e depois fico sem. Há dias que tudo não vai realmente bem. Você sabe, tem aqueles dias de cão. Sei lá, vai saber quantas coisas podem ser consideradas ruins para que você diga que seu dia foi ruim. Para o meu dia dar errado eu só preciso que o meu coração esteja esmagado feito um pão na chapa quente. Problemas familiares então me desestabilizam, me desestruturam. Não há para mim nada pior do que um âmago familiar em crise. E dai vem os meus dias de cão.
O engraçado é que todo mundo some quando você realmente precisa. Sei lá porque as pessoas somem, elas tem coisas mais necessárias do que se preocupar, faculdade, trabalho, sexo, namoros essas coisas todas e então elas realmente as vezes não pensam muito bem. Mas é quando eu realmente prendo o grito e ninguém aparece.
Tudo bem, eu sou mesmo um silêncio desenhado em pessoa. Eu sofro calada. Cubro o rosto com a coberta para chorar, mesmo que eu seja a unica pessoa trancada no quarto. Eu fecho os olhos para que nem eu mesma descubra o que eu estou sentindo. Sofrer de angustia é sempre muito ruim. E geralmente eu não anuncio que estou mal. Sou da velha moda de quem te conhece de verdade sabe no seu semblante que o pé esquerdo foi o primeiro a tocar o chão.
É por isso que me alivio em palavras escritas. Se eu pudesse dizer o quanto é desesperador não saber a quem dizer de verdade "estou mal, me ajuda. É claro que eu tenho a quem, na verdade. Mas machuca o que eu sinto, machuca também dizer, imagine só.
Eu aqui toda esperançosa ainda querendo que todo mundo pense um pouquinho como eu penso. Achando que vou receber um afago na cabeça nos dias de diluvio, achando que alguém vai passar a mão por cima de mim e dizer que vai passar, claro que vai passar.
Eu sei que vai passar. Claro que vai. Um dia, quem sabe. Só me pergunto quando. Só me angustio me perguntando quando e quando e simplesmente quando.
Annabel Laurino
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