Começou o verão e a criatividade sucumbiu pro saco. É, isso mesmo, minha cota de criatividade foi embora junto com o frio das estações. E que saudade!
Essa coisa toda de calor, todos os dias, sol a pico, ter que ficar se escondendo nas sombras com os ombros torrados e virados em um pimentão está acabando comigo. Eu passo a maior parte do tempo em casa e só saio a noite. Parece mentira mas por incrível que pareça eu saia muito mais no inverno. Tantas cafeterias, cafés no AM/PM, caminhadas no frio congelante sobre uma lua enorme no céu, aquelas chuvas repentinas e geladas entrando pelas mangas do casaco enquanto, desesperada, tentava abrir o guarda-chuva.
Lá se foram as tardes sentada tomando vários cafés quentes e filosofando sobre a vida, por que sei lá, parecia mais fácil filosofar sobre a vida com um café fumegante na mão e paisagem cinzenta lá fora. Calor é tão... Humano. É meio que o caos que a gente realmente é, entende? Calor nos aproxima de nós mesmos enquanto o frio nos faz imergir para algum lugar mais cinzento, mais congelante e resguardado de nós.
Não vou nem falar nada dos finais de semana, da praia lotada, do 1 kg de protetor solar e daquela gente mal educada te mandando longe no meio da avenida lotada só porque você passou na frente do carro delas. Verão é legal e tudo, mas é muito verão. É só isso. É sol, temperaturas altas e gente em exibicionismo maior, todos se sentindo deuses. Fim, acabou. Só isso.
Acho que terei sempre uma alma de velha por amar os outonos e os invernos, aquele friozinho gostoso, a ponta do nariz vermelha e gelada, os chocolates quentes, as roupas, as luvas e cachecóis, os livros nas livrarias e toda aquela paisagem ficando mais limpa, mais rarefeita, acho que até as pessoas ficam um pouco mais bonitas!
Então eu fico aqui sentada no meu quarto, ouvindo rumores dos corajosos que se ariscam de que o sol está escaldante lá fora e vislumbro aqueles raios fortes, aquela gente suada se apertando nas calçadas e a vontade de sair explode no ar como uma bolha de sabão e eu regresso para a cadeira, ligo o computador e morro de saudades do outono, morro de saudades das folhas secas e descoloridas e, espero. Espero a criatividade vir, que não vem, e me aperto quente aqui sentada, esperando. Desesperando.
Annabel Laurino
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