A sexta feira chegou esmagadora. As imagens na cabeça eram
do filme de terror visto na noite passada, aquele meio antigo em que a menina
vira a cabeça em 1000° e da as piores risadinhas diabólicas do mundo. Sem
contar que no fundo da retina, muito complicada e perdida, estavam todas
aquelas tragédias diárias, das familiares até as frustações românticas. A sexta
começou mal.
Começou afogada
numa caneca de café amargo e com um olhar ainda mais amargo diante do espelho. “Meu
Deus, pensou, eu devia estar feliz.” E porém, não estava.
Tinha, aquela
menina meio descabelada, a péssima mania de misturar sentimentos como se fossem
alimentos sendo jogados num liquidificador, e que ela ligava, com o maior
prazer, sem se preocupar em por a tampa, fazendo tudo voar pelos ares,
manchando as paredes, tingindo o branco limpo das cortinas intocáveis.
Dizem que as
sextas feiras são os piores dias da semana, são o ultimo grito do martírio e
então o salve da paz em direção a liberdade do final de semana e do “venha tudo
que puder” o qual nos trazem sempre.
No fim não
acontece nada. E nunca acontecia de qualquer forma.
Tomou banho gelado
e pôs no corpo a roupa obrigatória de toda a semana, sair a luta era o
potencial dos dias, ser esmagada pelas suas próprias emoções era o fado de uma
vida sem explicações.
Começou a chorar
sempre. Antes de dormir, quando as luzes eram apagadas e se via envolta pela
escuridão, dormia chorando, entre o rolar de uma lágrima e o gemido fininho de
uma dor aguda no coração. Sem contar quando começou a chorar até quando chegava
em casa, sentada no sofá abraçada à uma almofada. Nunca fora assim tão sensível,
e agora, parecia quase que iria quebrar, de dentro para fora.
Pressentia nos
ventos abafados daqueles dias calorosos uma estranha sensação que chegava a
perfurar no peito, uma espécie de sede destrutiva, de fuga da realidade, de
fazer mil bobagens ou, de simplesmente não fazer absolutamente nada. Uma
dorzinha mesclada com desejo que beirava à desistência. E não sabia explicar.
Mas havia sempre, sobre essas sextas, uma vontade doida de sumir de tudo, sumir
com tudo, mesmo que o sol ainda berrasse grande e impotente lá fora.
Annabel Laurino
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