Fiquei muito
irritada com você. De verdade. Eu quase senti que ia sair fora do corpo de
tanta raiva. Vontade era de socar você e sua cara de sono, sua língua grossa e
seus olhos desmantelados. Cansei. Chutei o pau da barraca.
Passei duas horas
me arrumando em frente ao espelho, arrumei o cabelo, pintei as unhas, coloquei
seu perfume preferido e tava com saudade! Olha só, eu, com saudade! Todas as
peripécias perfeitas de quem gostaria de ser notada e se importando um pouco
com a situação. E olhe o que você fez!
Você todo
desligado, me chega todo desfeito, despreparado, despreocupado. Garanto que nem
notou na minha felicidade cantante de quando te abri a porta, te mandei entrar,
com um ar meio diferente, alegre, entusiasmada por te ver, porque era domingo,
tinha sol e eu queria muito sair, pegar da tua mão e rir feito doidos como de
costume, porque isso sempre foi e seria ainda melhor em mais um domingo como
aquele. Só que você tava com cheiro de cerveja, descabelado, desarrumado,
tonto, perdido, com chiclete de menta para disfarçar a promessa assídua do que
não iria fazer e acabou fazendo, com os bolsos recheados de desculpas
esfarrapadas e perdidas de sempre.
Pensei em chorar
no meio daquela musica do Bon Jovi, sentada em frente ao computador pensando no
que te disser, mas eu não tinha mais nada pra dizer e mesmo o que eu acabei dizendo
foi tudo da boca pra fora, foi tudo tipo engasgo desengasgado. Não foram
palavras prontas ou pensadas. Eu fiquei mesmo foi triste, decepcionada. Nossa,
você foi tão cruel.
Já parou pra
pensar o quanto esse coração aqui era frio até você chegar? Eu nem se quer
sabia a diferença de uma borboleta marrom para uma folha enegrecida caindo de
uma árvore. Minha percepção aos detalhes era difusa. Você mudou tanta coisa. Me
trouxe tantas musicas, sons, cores, sabores e me mimou tanto. Faz aquele cafuné
gostoso, aquele café doce e aquece os pés de alguém como ninguém. O que foi que
houve rapaz? Não me diga que você é esse tipo de jogador confuso que quando ta
no final do Time, nos acréscimos do segundo tempo, pronto pro desempate da
vitória, ganhando na casa, você entrega o gol pro time adversário? É isso
mesmo?
Tinha desmarcado
todos meus compromissos na agenda pra te ver. E olha o que você faz. Acho que
assim não segue, sei lá. Já foram tantos ‘agora pode fluir, agora vai, o vento
sopra, a coisa firma’ que eu to desanimada demais. Desanimei. Desiludi. Coisa
mais chata você e sua áurea desorganizada, negra e cheia de mesmices. Já disse
que odeio gente molenga? Que não sabe se vai, se vem. Que fica se atirando nas
paredes, que anda meio que se empurrando pra frente, esperando alguém aparecer
para dar um sacodes e ajudar no ‘vamo lá!’. Já fui esse tipo de gente, que
parava com a maior paciência do mundo. Que te ajudei, que te dei os maiores
sacodes do Universo e que te disse as maiores delongas de uma vida inteira. Mas
hoje, hoje meu rapaz, não mais.
Fui. Já chega. Já
era. Deu. Acho que se você me ouviu direito eu disse muito bem, eu até recitei
um verso da querida Tati Bernardi do seu lado, enquanto você jogava e nem me
dava ouvidos, “Quando a gente se importa, ainda é um sentimento, ainda é alguma
coisa, raiva, ódio, essas coisas. Quando a gente não se importa mais, vira
apatia, indiferença.”.
Acho que é isso que
você quer de mim, minha total e completa indiferença, só para que eu pare então
de falar, lavar, esfregar paredes, fazer sinais de fogo pra te chamar a
atenção, eu e meu lado certo, correto, organizada e chata. Mas to nem ai, você
que é burro, você que me perde sempre e sempre, e por coisas tão banais que
você julga tão legal e cool e tal.
Tchau. Já fui. A segunda feira já começou, minha
sintonia desentronizada de você também. Um beijo.
Annabel Laurino.
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