Não sei o que houve. Estou lendo desde que a
gente parou de se falar mais cedo. Te contei que estava lendo Um dia, não
contei?
A história é a seguinte: Eles são jovens e
se conhecem no final da faculdade e ficam juntos por uma noite, nesse tal dia
onde tudo começa, o dia da formatura. O cara, Dexter é um tanto egoísta,
imaturo e viaja no dia seguinte que fica com ela, Emma. Ela é uma
projeção idêntica de mim e não estou me gabando disso. Sério, fiquei
um tanto assustada, por que até mesmo no físico dela que é contado no livro é
parecido com o meu... Ela é escritora, lê pra caramba e etc. o resto você pode
imaginar...
Eles ficam juntos no dia 15 de julho de 1988
e toda a história são relatos de anos a seguir, mas sempre no mesmo dia
15 contando como eles estão. Mas vezes eles brigam muito, ou até mesmo param de
se falar por uns tempos, mas sempre se reencontram em algum momento. Eles ficam
com outras pessoas por que simplesmente não conseguem ficar juntos um com o
outro. Se tornam apenas melhores amigos, porém se amam muito.
Sei que não faz muito sentido, mas esse
livro é realmente lindo e me doeu muito. Sério. Como eu sei que você não vai
ler eu preciso contar o que acontece que em parte é o motivo de estar
escrevendo o e-mail.
Depois de
muitos interlúdios e separações bruscas, afastamentos abruptos entre os dois, e que Dexter
se mete em várias roubadas, Emma da uma guinada na vida, publica livros, ele se
casa, tem um filha. Ela segue a linha independente e vai para Paris, e é onde eles
se reencontram. E depois de tudo, quando eles percebem que a vida já seguiu de
mais e que no fundo, mesmo assim, eles sentem muito mais do que uma amizade um
pelo outro, eles ficam juntos.
Mas a vida
prova de que nem sempre podemos recuperar o tempo perdido.
Emma morre em um acidente enquanto ia se
encontrar com Dexter para eles escolherem a casa em que iriam morar depois de
oito meses de casados, isso no quase final do livro, depois de tudo, de tudo
que eles decidiram, que eles finalmente haviam confessado o amor de um pelo
outro. Ela morre!
Isso me doeu de uma forma extrema. Quer
dizer, eles se amavam tanto, eram melhores amigos, viviam brigando, é verdade,
super diferentes, mas se amavam! E ela morre?
Puxa fiquei triste, fiquei relendo as
cartas que ela mandou para o Dexter ao longo do livro de quando ele estava
viajando e ela estava sem emprego e meio depressiva por que havia se formado e
não sabia o que fazer da vida.
Fico pensando que garantia a gente tem se
não vai mesmo morrer a qualquer segundo. Sei, parece mordaz e depressivo de
mais, mas tudo que eu quero dizer é que é triste esse pensamento.
Fiquei chorando
por um tempo e resolvi que precisava falar contigo, que é a única pessoa que me
entende nesses momentos doidos.
Eu sei, você vai dizer: "Anna é a vida,
acontece" ou "Anna é só um livro, uma história, fica tranquila"
ou você vai rir jocoso e me dar um cutucão dizendo "é por isso que a gente
tem que aproveitar ao máximo enquanto estamos vivos".
Em parte eu sei que pode até ser verdade,
mas o negócio é que fiquei triste com essa história toda. Emma era tão legal e
morreu! Parece tão injusto...
Ta já estou vendo você suspirar e dizer:
"a vida é injusta anjo"
Eu sei, eu sei.
Só queria colocar pra fora, para ver se eu
entendo bem essa coisa toda e se eu meio que me curo dessa dorzinha incomoda. Parece
até que é algum sentimento de culpa interior. Da para entender?
Do tipo de
quanto a gente se olha em um espelho e sabe que tem alguma coisa errada
refletindo nele, mas lá dentro, a gente não quer ver. Então a gente para de
olhar, para de passar na frente do espelho e até apaga as luzes para facilitar com que as
sombras da casa não sobressaiam-se tentando transmitir a verdade.
Algo assim...
Não sei. Tão familiar, posso dizer.
Annabel Laurino – email ao amigo.
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