quarta-feira, 23 de maio de 2012

Entrelaçados


    E como te dizer, sem rodeios ou floreios, de palavras bonitas e misteriosas, que pensarás soberbamente no significado por um dado tempo até que prossigas esse pensamento solto que aqui registro?
    Preciso elucidar esse motivo de insônia, sem mais nada dizer além do que realmente preciso. E quero dizer que te queria aqui, agora. Sim, sim. Eu te queria aqui. Nós entrelaçados no meio do meu quarto, no meio dos meus livros. Te beijaria, me beijarias. Deitarias sobre minha cama quente, com seu corpo esguio, cada centímetro tão conhecido pelo meu. Tiraríamos os sapatos, me deitaria ao seu lado, tiraria os óculos e repousaria o rosto em teu peito, seguindo a linha do teu pescoço com meu nariz, fungando teu cheiro. Afagaria teus cabelos, a cavidade dos teus olhos, a pele lisa do teu rosto. Entrelaçaria minhas pernas nas tuas, nossos pés se encontrando, nossas mãos se buscando. Tuas mãos segurando-me forte perto de ti, para que não eu fugisse de repente. E eu te encontraria em mais tantos outros beijos em que meus lábios beijariam os teus, sem medo. Como uma sede não saciada, uma fome dolorosa de semanas.
    E tanto faz, penso agora, o dia que estivesse lá fora, sol, chuva, frio, calor. Mas penso no frio, na chuva, nas janelas fechadas estampando as gotas geladas no vidro. Penso no silêncio da casa, no cheiro de café que estaria em nossa boca, no gosto bom do teu sorriso estampado nos parênteses do canto de seus lábios. Ririas nervoso e tentarias me dizer qualquer coisa boba como a chuva lá fora, mas eu te pediria silêncio, porque não haveria mais nada que realmente importasse nessa hora. Descobriria tua pele quente com o toque dos meus dedos frios por baixo de tua roupa e sentiria era o arrepio. A tua pele e a minha acordando de um sono doloroso, depois de, não saberíamos quanto tempo ao certo,  sem se encontrarem. E já faz tanto tempo, não me lembro agora como realmente é o gosto do teu beijo, lembro do peito em combustão, das palpitações nervosas, do querer e não poder. Do sentir demais até doer.
    Eu, você. Em qualquer dia desses, em qualquer hora. Entrelaçados.



Annabel Laurino.




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