“Siiiinhác” fez o pacote da barrinha de cereal sendo aberta.
Levou a barra pequenina aos lábios e mordeu. O sabor da macadâmia inundando os
lábios rosados. Baixou os olhos mirando as mãos de unhas vermelhas. Um dois
três, um dois três. Levantou os olhos e sobrancelhas-grossas já a olhava,
levantou uma sobrancelha sedutoramente, do balcão de frente para ela, o corpo
esguio e perfeitamente magro. Ela mastigou lentamente, gostava de como a pele dele incrivelmente branca como a polpa de uma maça se sobressaia por baixo dos cabelos negros e da camiseta azul escura, de como os olhos dele eram cinzentos e bilhares de coisas mais que aprovava enquanto mastigava sem saber se faziam algum sentido óbvio para definir: "sim, eu gosto.". Ele jogou a pasta cinza por cima da mesa, um gesto
abrupto, assim em publico, mas parecia não ligar a mínima para o que os outros
pensariam. Olhos cinza, por baixo das sobrancelhas grossas, a miravam
fazendo-a sentir que aqueles olhos lhe davam mordidinhas lentas em seu corpo
cada segundo que passava. Ela baixou os olhos novamente. Um dois três. Levantou
novamente, como uma menina levada e curiosa, ele a olhava ainda. Desenhou nos
lábios finos um sorriso convidativo, logo com a boca moldando-se gentilmente
sem emitir som: “Lá fora”, quis dizer. Ela assentiu. Um dois três. Sentia suas
faces rubras. Mas o que fazer? Sobrancelhas-grossas sorriu, parecia felino,
maciço e delicioso. Delicioso.
Annabel Laurino.
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