segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O mar, e tudo mais de negro que você possa imaginar


    O mar era negro. E as ondulações, eram nervosas e brandas. Tudo parecia meio pastoso, meio difundido em cada minúscula coisa que você poderia até mesmo nem perceber, com esses seus olhos humanos de todo dia, que olham para tudo sem enxergar de verdade. Você, se olhasse assim, não perceberia a areia genuinamente pesada que se aglomerava no fundo do alto mar, nem mesmo pensaria nela, ela que nem era tão coberta, por que antes mesmo de chegar ao mar existia a praia, onde na beirada uma espuma cinza de milhares e bilhares de bolhinhas pequeninas e brilhantes explodiam no calor do sol, e enquanto borbulhavam, o sal tilintando no calor causticante e no fervor do dia, essas pequeninas bolinhas estalavam crepitadamente, e no estalar nervoso eram, muitas vezes, esmagadas por pés brancos, negros, magros ou pequenos que corriam em direção do mar. As gaivotas em seus vôos rasantes ficavam encantadas com as espumas cinzas e as bolhas crepitantes, e no final do dia sempre admiravam de perto. Você também não perceberia, naquele negrume de coisas difundidas, que só eram vistas pela luz do dia, o céu por exemplo, azul brilhante, nuvens brancas, você diria, “o que há de mais?”, mas havia mais, muito mais. Como as pipas coloridas que as crianças sapecas com seus pais que ainda não cresciam soltavam no ar, refulgiam no vento, rasgavam no céu e pareciam, em certo momento como se coladas no papel azul perfeito.
    Ela nem notava essas coisas. Assim como você. Não tomava nota nem mesmo das conchas com suas listras de muitas cores que ficava á beira mar. Muito menos nas pipas, no sol, no céu. Ela se importava com quão negra estava a água, e ia em direção á ela, quanto mais negra mais seu estomago pulava de pavor. Não queria que fosse daquela maneira, lembrava-se sempre que um dia a água havia sido verde, clara, branca-mar, quente e refrescante no seu sal, na sua areia. E agora, negra. Como uma pedra difundida, banhava-se em constante movimento. Ela não queria entrar lá, afundar sobre aquele sol e mar. Mas ia, sabia que seria assim e quando começou a colocar os pés genuinamente brancos dentro da primeira ondinha de água, soube que seria quase tão difícil sair depois. Não sabia por quanto tempo, sabia apenas que era necessário entrar, e depois, que tivesse entendido tudo corretamente, poderia sair.

Annabel Laurino.

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