Estou aqui, encarando minha imagem no espelho
e pensando o quão delicioso seria não ser eu mesma, só por um segundo. Uma maneira de
pensar e criar uma personagem completamente nova, como quem quer estancar a
dor.
Se eu pudesse
viveria no sul da Califórnia, seria loira, teria belos seios bem medidos e
formosos, uma cintura e quadris dignos de Marilyn Monroe, teria cabelos longos,
olhos cor de mel mesclados com um tom de areia tostada lá do Cairo. Vestiria
roupas estilo anos 50, na verdade a década seria essa mesma. Trabalharia como
garçonete em uma daquelas cafeterias, teria um namorado de nome estranho que
colocaria medo em outros caras, ele seria um babaca, viveria pedindo pra gente
transar enquanto eu nunca iria aceitar. Seria o legítimo sonho americano. Eu
teria pôsteres de estrelas de Hollywood na cabeceira da minha cama, escutaria
Johnny Cash todos dos dias e todas as noites quando me deitasse pediria para
que um dia eu pudesse ir para Nova York e me tornasse uma modelo muito famosa
ou uma cantora desejada. Eu cantaria bem, mas meus pais diriam que eu tinha que
me preocupar com meu emprego já que a fase não era fácil, tinhas meus outros
irmão pequenos e mais novos.
Diziam que eu deveria me casar com meu namorado por que ele era de uma família de classe média, e classe média era tudo naquela época. Usaria vestidos feitos por mim mesma, teria um ar doce e clássico, fases rubras, olhos desejáveis, um acento difícil, inocente. Acharia que eles tinham razão, embora eu odiasse a idéia de me casar e ficar em casa enquanto meu marido trabalhava o dia todo e depois do expediente iria beber uísque com os amigos ou nos dias que eu deveria estar recebendo nossos vizinhos e fazendo sala ao mesmo tempo que me preocupava com as camisas por passar do meu marido que eram, mesmo que eu não quisesse admitir, adornadas de um certo cheiro feminino que não o meu.
Diziam que eu deveria me casar com meu namorado por que ele era de uma família de classe média, e classe média era tudo naquela época. Usaria vestidos feitos por mim mesma, teria um ar doce e clássico, fases rubras, olhos desejáveis, um acento difícil, inocente. Acharia que eles tinham razão, embora eu odiasse a idéia de me casar e ficar em casa enquanto meu marido trabalhava o dia todo e depois do expediente iria beber uísque com os amigos ou nos dias que eu deveria estar recebendo nossos vizinhos e fazendo sala ao mesmo tempo que me preocupava com as camisas por passar do meu marido que eram, mesmo que eu não quisesse admitir, adornadas de um certo cheiro feminino que não o meu.
Um legitimo conto
americano.
Eu acordaria um dia
e fugiria. Desesperada pela vida que me esperava. Pegaria meus vestidos remendados, deixaria uma carta para mamãe e
papai, não diria tchau para meu namorado idiota por que na noite passada ele
fora mal educado e me deixara triste. Pegaria o primeiro trem, uma capa cinza
de viajem sobre os ombros redondos e pequenos, um ar jovial e inofensivo no
rosto, a boca entreaberta soltando o ar apavorado de quem foge.
Na viajem conheceria Tom, um cara cuja vida exalava muita
grana. Ia para nova York e me prometia que se o seguisse seria muito rica e
feliz. Eu passaria por maus bocados difíceis, beberia pela primeira vez,
dançaria em boates proibidas, saberia o que era trair, mentir e jogar para
viver, me tornaria fria e felina. Me fariam sofrer até o ultimo, seria jogada
em meio ao nada, depois me vingaria de cada um que me fez sofrer, começando por
Tom que me virou as costas quando eu mais precisava, depois de todas as
promessas e do filho que eu carregava no ventre e que ele me fez esquecer.
Seria um filme
americano.
Mas as coisas iam
melhorar depois, eu aprenderia a ser fria e má, ficaria rica as custas da minha
vingança, viajaria para o Sul da França, teria muitas roupas e sapatos, um cigarro amargo entre os lábios vermelhos, beberia vinho nos vinhedos franceses, teria milhares
de empregados, não saberia nenhum sentido da vida além o da luta por viver e a
sobrevivência por renuncia á morte, me comunicaria com mamãe e papai todas as
noites, nunca mais ouviria falar do meu primeiro namorado de nome estranho.
Um belo dia,
voltando para o sul da Califórnia, sentindo-me diferente veria que não era
famosa, nenhuma modelo, nem cantora, mas era rica, tinha um legado de dinheiro
acumulados até o pescoço, soubera investir todo o meu dinheiro, era popular por
todas as boas e más línguas, era respeitada e temida, uma linda e jovem mulher
solitária. Minha mãe estaria doente, meu pai estaria velho e eu só. Conheceria
o amor da minha vida, ele se apaixonaria por mim, mas eu por medo de já tanto
sofrer não me entregaria fácil. Ele lutaria, me seguiria por todo o país, me
mandaria flores e me beijaria na frente de todos em plena Saint-Tropez. Ele me
daria lindos filhos e me faria muito feliz, compraríamos uma linda mansão de
verão em Hamptons, Nova York. Viveríamos felizes. Pela manhã eu prepararia o
café da manhã, daria um beijo de lábios tingidos de cor de rosa em cada face
angelical de meus filhos, beijaria meu marido e diríamos o quanto nos amávamos na
soleira de nossa janela, enquanto olhávamos as crianças correr pelo jardim com
nosso cachorro chamado Max e mais alguns outros animais que teríamos espalhados
pela casa. Cantaríamos musicas no natal, faríamos lindas ceias, teríamos uma árvore
gigante adornada de milhares de enfeites, alguns feitos pelas crianças em
tardes de chuva sentadas na mesa da cozinha comendo chocolate. Nos reuniríamos todas
as noites diante da lareira para contar histórias e tomar leite e comer
biscoitos preparados por mim e meu marido.
Seria uma vida ótima,
um longo e brilhante sonho americano.
Voltando para mim,
de frente ao espelho. A desenvoltura ardente da realidade, transbordando para
todos os lados, amarga e crua, ela descia pela garganta empurrada as custas.
Lembrei da minha
outra vida. Aquela imaculada e perfeitamente guardada em meus sonhos mais
mirabolantes. Califórnia... Nova York... Um sonho americano no melhor estilo dos anos dourados.
Annabel Laurino.
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