sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A Idiota do Pijama de Bolinhas.

     E a noite finalmente caiu. Passei o dia inteiro de pijama. O dia inteiro. Lendo um livro jogada sobre o sofá, bebendo água gelada e roubando balas de chocolate do baleiro de cristal da sala. Passei o dia inteiro fora de nexo, aprofundada em uma história distante da minha realidade. Buscando nada em nada.
    O dia passou lentamente. E só agora que chega perto do fim eu paro e vejo o céu escuro e pastoso, tão negro, tão misterioso, tão nu, que me assombro o quanto na verdade mais um dia se foi. Mais um dia. Um dia a menos. Para que, nem mesmo eu própria sei dizer.
    A verdade, a verdade incorrigível que não sai da minha mente é que não consigo tirar você dela, da minha mente. Não consigo nem ao menos dormir em paz por que me pego sonhando com você, em sonhos loucos, em vontades ardentes de passar meus braços em seu corpo e sentir seu calor perto de mim. São as horas mais contentes e mais vividas do meu dia, quando eu estou dormindo, estou vendo seu rosto, e tudo parece incrivelmente real.
    Não é engraçado? Há um tempo atrás era muito real, tão real, você estava aqui de verdade e eu nem precisava se quer pedir para você estar, você estava, você esteve, até eu ver tudo sucumbir pelas minhas mãos como água sendo derramada pelos meus dedos, tudo, tudo por besteiras, por bobagens, por palavras não ditas, por olhos que não queriam se abrir, os meus olhos.
    E que visão turva e realmente idiota eu tenho agora. Desperdiçando meus dias, com um pijama ridículo de bolinhas, deitada em um sofá em uma tarde insuportavelmente quente, e tudo por que eu ainda tenho esperanças de que a próxima vez que alguém apertar a campainha, será você. Será você na soleira da porta sorrindo gentil para mim, será você me tomando em seus braços e me reconfortando perto do seu corpo quente. Será unicamente você. E é por isso que eu espero.
    E isso se torna uma tortura. Uma tortura que eu mesma me culpo por passar, por que sou ridiculamente idiota o suficiente para me deixar passar por isso. E o problema é que eu não consigo sair, é como me ver engolfada em uma imensidão de um oceano, ser cercada por ondas gigantescas mais fortes do que mil homens que com facilidade me jogam para o fundo do mar, e rapidamente sou emergida por esse amor, por essa vontade doida de crer todos os dias que você vai voltar.
    Abri os olhos nesta manhã, era ainda muito cedo, a luz no céu era cinzenta, seis e pouca da manhã, descobri que apertava o travesseiro loucamente perto do corpo, e que este suava. Descobri que era um sonho o que recém havia se passado na minha mente, descobri que você não estava no meu quarto e invés disso, todo ele era vasto, vazio. Descobri que sua risada recém escutada fora criada por mim, pela minha memória, era sua risada de fato, mas não recente, como eu gostaria de acreditar. Descobri que você não estava do meu lado e que a matéria pomposa que eu agarrava junto ao meu corpo, em um gesto desesperado, tão pouco e de longe era seu corpo. E então me senti afogar, me senti engatinhar no ar na busca incessante de tentar voltar ao sonho, ao mesmo sonho, onde eu poderia só mais um segundo que fosse, só mais um instante, só para mim passar só mais um instante pequenino do seu lado, mesmo em um sonho.
    E agora sentada em meu quarto, revendo os acontecimentos do dia, pensando no livro que acabei de ler, pensando no ocorrido do sonho, no sonho, em você, pensando que frustração grande senti ao descobrir que você não veio hoje, que você não esteve aqui.
    Estou pensando quando isso vai mudar, e quem pode mudar para mim.
    Resposta fácil.
    Somente eu mesma.
    E eu quero isso?
    Começando, talvez á trocar o pijama quem sabe. Um de bolinhas não seja assim tão... Charmoso. Mas trocar minhas esperanças, isso é diferente. Eu trocaria pelo que? Por quem?
    Me parece vago e sem sentido desistir agora. Me parece inútil dizer que não te amo mais, quando na verdade está escrito na minha cara, esta nas ultimas silabas de cada palavra que pronuncio. Até um cego pode ver.
    Que desperdício, que desperdício lamentável de um coração. Em pensar que já estive prestes a entregá-lo para qualquer um, qualquer um que quisesse, e hoje descobri que burrice.
    Que burrice a minha pensar nisso. Em doar meu coração para qualquer um.
    Qualquer um quem?
    Qualquer um não serve e um também. Preciso é de amor, e que não seja qualquer, e que também não de apenas um dia.
    Por isso, me agarro incontestável á esse amor, mesmo que me destrua e me desfaleça todos os dias. É divertido olhar para mim vestida nesse pijama, pensar nas possibilidades de que eu não precisava estar aqui, assim, vestida dessa forma. Que eu tenho amigos, que eu tenho para onde ir. Mas me faz sorrir, por que mesmo assim, mesmo com diversas possibilidades eu me agarro a só uma. Eu prefiro esperar por você. E isso, isso me faz rir, por que pelo menos eu sei, e gostaria que você soubesse também. Há um alguém no mundo, um alguém pequenino, como uma agulha minúscula em um palheiro do tamanho de um baú, com um bravo e forte coração, mesmo que idiota com seu pijama de bolinhas azuis, mesmo que ridículo com seu cabelo despenteado e seus óculos já um pouco grandes no rosto, mas á alguém que prefere acreditar em você. É esse alguém que também prefere acreditar em si, e sorri, pois sabe que mesmo que as possibilidades sejam enormes á ponto de desviar todas as suas esperanças, ela é forte o suficiente para admitir que é fraca para desistir e forte para continuar, pois o ama incondicionalmente.


Annabel Laurino.








Texto escrito no dia 04/02/11


Nenhum comentário: