Experimenta dizer pra uma amiga sua que você está péssima, que tudo deu errado e que anda precisando de um ombro. Aposto que ela vai sentar e chorar as pitangas com você. Se o seu problema for um ex, capaz até de ela começar a contar do último namoro dela, como se quisesse convencê-la você de que podia ser pior. Por outro lado, se disser á sua amiga- qualquer uma delas- que está feliz, radiante, que gosta da sua vida exatamente como ela é, pode ser que ela estranhe e ache que você anda meio maluca. Isso por que infelizmente, hoje em dia, quem vive na boa e deixa isso transparecer é uma minoria. Duvida? Faça o sacrifício de assistir á um tele jornal inteirinho. Entre dezenas de histórias pra lá de trágicas, de assassinatos, roubos, mortes, furacões e tempestades, talvez sobre uma ou duas de gente que fez coisas legais ou que se deu bem. Dizem que o sofrimento da mais ibope. E não é verdade? Pensa bem: você olha com o mesmo interesse para uma batida daquelas de transito e para uma borboleta que, do nada, resolve pousar no vidro do seu carro? Pois é. O problema é que de tanto olhar sofrimento e catástrofes, violência, periga a gente esquecer que a vida também é feita de poesia.
E mais: de tanto cultivar a dor, ela acaba meio que perdendo o sentido.
Tipo: a gente chora vendo vitimas de um tal desastre na TV. Mas não se emociona quando passa perto de um mendigo, que vive na esquina da nossa casa. Faz sentido isso?
O sentimento de compaixão, que nos faz dizer “nossa, coitado do fulano”, não é de todo ruim. A gente só sente dó dos outros por que consegue se imaginar no lugar deles. O que eu acho chato nessa lamentação toda é o que vem depois. E o que vem depois? Nada! Parece papo de doido? Eu explico: na maioria das vezes, apesar de chorarmos lágrimas de crocodilo pelo sofrimento dos outros, quase nunca transformamos isso em algo produtivo, não pensamos em maneiras de aliviar aquela dor. Sentimos pena. E só.
Até quando o sofrimento é nosso, fazemos de tudo pra fugir, demora horrores pra termos coragem de enfrentar o problema que está nos fazendo ficar cada dia pior. Tenho um exemplo bom: o do fora. Quem nunca levou uma dispensada e, no dia seguinte, passou horas trancada no quarto, ouvindo música lenta e lembrando das últimas palavras do pretê? É como se fosse uma tortura que aplicamos a nós mesmas!
Agora, imagine se a gente pudesse fazer diferente – e a gente pode! Então, quando uma amiga viesse reclamar da vida, tentaríamos animá-la, em vez de contar casos ainda mais dramáticos. Ao ver que alguém – qualquer pessoa – está em sofrimento, faríamos o possível para ajudá-la, mesmo que a nossa contribuição fosse minúscula (em muitos casos, um sorriso ou um abraço salvam o dia de quem acordou achando que a vida não fazia mais sentido). Ah, e quando a dor fosse nossa, o primeiro desafio seria descobrir onde foi que nos machucaram, para resolver de imediato a questão.
Logo, se sofrer é inevitável, aliviar a dor- a nossa e a dos outros- parece sempre a melhor saída. Então que tal tentar fazer isso mais vezes?
Rita Trevian – Jornalista.
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