Caio Fernando Abreu
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
;
"Preciso de alguém que tenha ouvidos para ouvir, porque são tantas histórias a contar. Que tenha boca para, porque são tantas histórias para ouvir, meu amor. E um grande silêncio desnecessário de palavras. Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como - eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da concha que você habita, e da qual te salvo, meu amor, apenas porque te estendo a minha mão. No meio da fome, do comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto - preciso de alguém para dividir comigo esta sede. Para olhar seus olhos que não adivinho castanhos nem verdes nem azuis e dizer assim: que longa e áspera sede, meu amor. Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo e tanto medo. Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um caminho."
it's not the month, is...
Hoje é dia 31.
Isso quer dizer que amanhã agosto acaba.
Graças a Deus, eu
penso sobressaltada.
Será que toda essa
angustia vai embora junto com o mês cravado no calendário?
Tomara, tomara.
E que vá, eu peço.
Só
faltam algumas horas.
O problema não é o mês.
O problema é a
angustia que assola no peito e que não da sinal de partir.
Então será que não
vai?
Tomara, tomara.
Peço mais uma vez, esperançosa.
Annabel laurino
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
Momento claro
Eu pensei em escrever umas coisas bem duras e feias e
grotescas. Cheias de espinhos, palavras amargas, pesadas, que expusessem tudo
que eu sinto aqui dentro, amarrado no peito com um nó de marinheiro e que eu não
consigo desfazer.
Mas daí a noite foi
breve, o vento raspou nos meus cabelos pela manhã e eu vi que não vale à pena,
sabe? Nem um segundo meu ou seu nesse mundo necessita de tanto rancor, esse
amargo, essa coisa de ficar sujando o que um dia já foi tão bonito, com
palavras tão depreciativas e acusações recíprocas. Faz bem pra quem?
Eu mesma fui dormir
com o peito pesado, me sentindo péssima, culpada. Sempre fico culpada quando
algo da errado na minha vida, seja alguém que vai embora ou algo que
simplesmente não rolou. Mas parando para pensar, não tenho culpa não. Eu que
sempre fui tão livre, limpa, inteira, sempre tão sincera. Minha maquiagem
sempre tão transparente. Olho nos olhos das pessoas e não escondo o que eu sou.
Não tem esse papo cafona, de me desculpa
não sou perfeita. Você vai pedir desculpas por um fato? Ninguém é meu bem,
todos nós somos o que somos. Acordamos descabelados, necessitamos de banho,
comida, e carinho. Sim, carinho! Se sou imperfeita por isso, obrigada vida, já
estou acostumada com isso e não quero mudar.
A questão é que
acho que chega disso, to tão levinha, o coração parece um balão flutuando num céu
quase quebrando de claro. Chega vai. Não to com cabeça para dizer pra você o
quanto fiquei triste quando você desistiu de mim. Ou o quanto eu me magôo fácil,
eu e meu gênio de criança pequena. Também não quero ouvir os danos de que te
causei. Já foram explicados, resumidos, fadados e até mesmo, arquivados.
Desejo um bilhão
de estrelas luz no céu clareando seu rosto e te servindo de paz, que a sua vida
seja cheia de nuvens claras, teus caminhos sejam cheios de luz, amor e paz. E que
você encontre seu caminho, que a gente encontre o nosso caminho. Quem sabe a
gente não se cruza por ai? A vida é uma passagem cheia de curvas. Não levo
malas, não guardo o que é desnecessário, meu principal objeto de valor quem
sabe, é um sorriso nos lábios.
Porque o hoje, amanhã, será um ontem eterno.
Annabel Laurino.
;
"Presos pela liberdade, prosseguem cada um na sua, conectados por um fio invisível que não conduz mais eletricidade. Um fio de saudade dissonante e a certeza de que, amor como aquele deles, não acontece no tocar de uma varinha de condão."
Gabito Nunes
terça-feira, 28 de agosto de 2012
;
“Não planejei dizer aquilo, não planejei decidir nada. Quando vi, já tinha dito, já tinha decidido.”
Caio Fernando Abreu
;
“Raiva e rancor só merece quem se foi sem uma explicação convincente e nunca mais sequer procurou, deixando lacunas que nenhum outro adeus até hoje teve audácia de apagar. Pra você - e não menos que alguém como você - guardei e dedico toda minha raiva e rancor. E o meu amor também.”
Gabito Nunes
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
New way of life
Te direi
que entendi cada palavra sua sobre o amor. Ou o ‘amor’ que sentia, sente, por
mim. Entendi cada vírgula, cada “eu te amo” gesticulado e bem disfarçado em
gestos românticos, ou anti-românticos, porque também há sobre você, e quase
todos nós, essa mania de sermos birrentos, camuflar emoções. E eu entendi cada
peça misteriosa desse quebra cabeça, seu e de todos os caras da minha vida.
Puxa foi interessante, sabe? Foi legal saber como funciona isso tudo. Só que perdeu a graça. To
cansada pra valer. É isso. Pela primeira vez em toda essa minúscula vida eu
estou sendo direta e falando sem rodeios em meio às palavras de que tenho uso.
Cansadíssima.
Agora aqui, sentada em cima dessa pedra
fria de frente para o mar, com o caderno em mãos, o vento batendo no meu
rosto, esse cheiro de maresia congelada, sal do mar, brisa salgada, esse som de
crianças correndo e gritando lá longe, carros passando, caras tentando vender
seu peixe, ganhar um dinheiro a mais no dia, to me sentindo tão cansada. De tudo
que ia ser mas ai desengringolou e acabou não sendo. Culpa minha, sua, deles,
de todos nós e nossas mentes ferradas.
Eu
sei que não sou perfeita, sei que nem sou a ‘mina gostosa’ que você e seus
amigos ficam vendo as fotos no Facebook e dizendo ‘tai uma mina que eu pegava’.
De longe também posso ser aquela garotinha que você conversa no chat e diz
milhares de coisas furadas e que cola, sempre cola. Não estou desvalorizando a
raça minha de todo dia, mas existem tipos, e não sou o tipo de menina, mulher,
garota, enfim, que você está acostumado a lidar.
Não tenho cabelos
longos, não uso saia minúscula, não saio por ai dizendo que tenho um namorado e
que ele me leva para sair todas as sextas, porque eu não quero um namorado, e
nas sextas geralmente estou muito ocupada em meio aos meus livros ou em meio
aos meus poucos amigos jogando vídeo game, salvando a princesa, escutando
musica e morrendo de rir. Eu tenho mais o que fazer, e digo isso por que acho a
vida muito fútil, e as pessoas muito fúteis e todo e qualquer tipo de
relacionamento bobo que não exista amor, muito fútil. Tudo muito previsível e chato, as pessoas e etc.
E, como eu estava
dizendo, aqui sentada, nessa hora da tarde, com o sol fustigando na minha cara
e me dando um olá gracioso eu me sinto cansada de tudo isso, enquanto paro para
pensar.
Porque eu
realmente acredito e acreditei nas pessoas, todas elas que entraram na minha
vida, todas as pessoas que estenderam a mão e disseram, ‘ah eu to aqui com você’.
Mas as pessoas não estão com você coisa nenhuma, elas ficam por um tempo, elas
permanecem sentadas e quietinhas e te dão as réstias de carinho e atenção, até
que o que elas querem é dado e elas vão embora, ou até elas perceberam que não
terão nada e vão embora mesmo assim.
Sem chance,
cansei. Levanto dessa maldita pedra fria e saio caminhando pela praça, um cara
meio alto, meio descabelado levanta do banco que estava deitado e sai cantando
uma musica descornada sobre alguém que o deixou esperando e não chegou, e nunca
mais chegou. Minha comparação com a dele é inevitável. Me sinto descabelada,
sem banho, o efeito da brisa salgada, me sinto perdida, como se eu tivesse
dormido em um banco qualquer dessa praça. Passo pelo chafariz e um amontoado de
pombas se aglomeram em volta, saio caminhando, escutando ainda os berros
gritados da melodia do velho mendigo e me sinto decidida. Sim, decidida.
Respiro o ar,
meio abatumado de penas de pombas fétidas, sal do mar, mendigo sem banho,
cidade estranha, água parada do chafariz, e tomo um rumo. Um rumo, qualquer
rumo, mas um rumo. Estou indisponível. A partir de agora, enquanto eu suportar.
Enfim, não me procure. Esse é o novo lema da new way of life. Não me espere.
Não me chame. A liberdade grita. É o único som que ouço.
"Porque
você não chegou e eu morri de dor, eu chorei, você não chegou, não se culpe,
agora eu vou embora, eu tenho um novo amor. Um novo amor! Me olho no espelho, e
olhe só! La está o amor!" (8)
Annabel Laurino
domingo, 26 de agosto de 2012
:
"Eu só queria que chegasse um e-mail seu. Ou melhor: que você chegasse ao vivo. E que você me trouxesse aqui a sua barriga, a sua nuca, a parte mais branca das sua coxas, a sua cara de bravo até pra sentir prazer e o seu cheiro de cigarro com amaciante."
Tati Bernardi
;
Porque é muito tarde para se arrepender e muito cedo para planejar qualquer coisa nova, grande ou pequena em sua forma. É tarde para qualquer coisa que se atrasou no engasgo, no engarrafamento, no fluxo de carros de uma avenida cheia. É tarde para qualquer pessoa, sentimento, viagem que ia e não foi. Não estou aceitando mais qualquer coisa que somente poderia ter sido. Sem devoluções. Se não foi, não foi, que seja. A porta está fechada. Fechei as janelas também, para qualquer teimosia alheia. Pus tabuas na lareira e troquei todas as fechaduras, para os mais espertos. Por que é tarde. E cedo demais para qualquer coisa nova, se quer saber. É cedo para destruir ou construir. O momento é de renovação. De dentro para fora. Estou me arrumando por dentro, edificando uma coisa boa, uma casa simples, de madeira, ou uma cabaninha humilde com fogo a lenha e toalhas de mesa bem postas, com bolos cheirosos descansando na janela e uma jarra d'água para a chegada das caminhadas no entardecer. Depois, quando o cedo passar e for tarde novamente, me preocupo com o resto. E o resto pode ser tudo. Pode ser nada, depende. Estou me dispersando outra vez.
Annabel Laurino
;
“Eu preciso muito deixar acontecer o momento da renovação, trocar de pele, mudar de cor. Tenho sentido necessidades do novo, não importa o quê, mais que seja novo, nem que sejam os problemas. Preciso deixar a casa vazia para receber a nova mobília. Fazer a faxina da mente, da alma, do corpo e do coração. Demolir as ruínas e construir qualquer coisa nova, quem sabe um castelo.”
Caio Fernando Abreu
sábado, 25 de agosto de 2012
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Salto n°8 machuca mas faz bem
Qualquer garota que se preze tem uma mancha no vestido, um
arrombo no peito, o batom manchado, a unha quebrada. Qualquer garota
que valha a pena já sofreu, já levou aquele fora de um alguém que
de certo nem valia quase a pena. Daí a gente chora, sofre, reclama da vida, e
chora ainda mais, e para de comer, e para de sair, e chora mais um pouco, e
tudo bem, faz parte do processo, só que a vida tem que continuar assim como
continua para todo mundo, assim como continuou para o rapazinho que nos roubou
o direito de ser livres e isentas de sofrimento.
O que eu to
querendo dizer cara ladies é que qualquer mulher de verdade para ser mulher
mesmo e com o verdade escrito com letras maiúsculas tem que ter sofrido um
pouco. Não to brincando não. Vai dizer, no sábado a noite, sair com aquele saltão
no pé e ficar linda e fazer carão da Beyoncé só se você abrir mão de voltar
para casa com o pé de cinderela. Sem chance. Você volta com os pés acabados,
mas vale a pena, vai dizer. No fim passa dois dias e os pés estão recuperados
de novo, tudo volta ao normal até que o próximo sábado chegue novamente.
Assim a mesma
coisa. A mesmíssima. E eu digo isso para você ai, jogada no sofá com um pote de
sorvete no colo chorando horrores enquanto lê as postagens dele no Facebook
dizendo que saiu com a fulana e a ciclana. Ou para você que não come a dias e só
reclama que ta gorda e foi por isso que ele te deixou.
Ô vida sacana.
Diabo a quatro os motivos que ele te deixou, meu bem! Ninguém pode amar alguém
por completo mesmo, ninguém pode obrigar alguém a isso. Bom pra você que ta
sabendo disso agora, vai livre-se disso. Eu sei que dói, eu sei que parece que
não vai ter chance de passar, mas vai. Levanta da cama, do sofá, da cadeira,
lava o cabelo, faz as unhas, liga para a amiga, ou o melhor amigo, ou aquele
amigo colorido que ta na reserva só esperando você chamar para sair. E vai, sai
dessa! Vai tomar um café, vai ler um livro, vai dançar, vai aproveitar. Deixa
de pensar no ‘e se’ e pensa no agora. A vida ta passando e a mesma dor que hoje
te esmaga na parede é a que você vai passar cantando e mostrando a língua amanhã.
Ou depois de amanhã. Tem tempo. Vai ser feliz!
Annabel Laurino
Eta Carinae
Já era noite lá
fora e jazia em meio às nuvens densas e cinzas de uma noite agonizante de julho
um frio cortante, de arranhar a pele. Aprumou-se na cama virando-se de barriga
para cima, olhando o teto branco. Lá em cima, no próprio teto, havia quatro estrelas
fluorescentes bem posicionadas. Não sabia o significado da posição das quatro
estrelinhas brilhando no breu do quarto, mas desconfiava que não haviam sido
postas ali por um motivo em vão.
Na janela, as
cortinas estavam abertas e pode ver o bafo do calor de dentro do quarto e a
umidade unindo-se com o frio de fora, em gotas de orvalho, de neblina,
gotejando no vidro gélido.
Passou a mão
embaixo do travesseiro e catou o cigarro, colocou-o na boca e quando ia acender
lembrou-se dela, do quanto odiava quando fumava. Desistiu da ideia. Guardou
o cigarro. Olhou para o lado e vislumbrou o rosto próximo ao seu, sereno
enquanto dormia.
Queria conter-se,
mas era impossível. Ela dormia de bruços, os braços em baixo do travesseiro
turquesa com flores de cerejeiras. Parecia que abraçava o travesseiro como sua
única salvação em meio a um pesadelo, ou apenas um sonho ruim. As sardas do
rosto iluminadas pelas luzes da cidade ainda acordada do lado de fora. O nariz,
uma bolinha branca em meio a um rosto longo, de maças salientes e um queixo
gordinho. Era adorável, pensou. Os braços meio roliços, com sardas alaranjadas
em meio a uma pele branquíssima. Aproximou-se lentamente, repousou o rosto
próximo a sua omoplata e beijou-a, subindo lentamente pela linha do pescoço,
não se contendo.
Ouviu-a resmungar e
virar o rosto para o outro lado, mas continuou, e procurou sua orelha em meio ao
emaranhado de cabelos crespos e fartos. Afastou as mechas e deu-lhe um beijo no
rosto. Ela abriu os olhos castanho amadeirados, confusa, o cenho franzido. Seu
nariz de bolinha arrebitando-se enquanto não entendia o porquê despertara. Até
que no fundo da mente a confusão passou e percebendo o que e quem lhe acordara,
irritou-se.
- Perdeu o sono, é?
- Perdi.
- E resolveu me acordar. – sentenciou irritada, virando-se
de barriga para cima, as cobertas destapando-a um pouco, mostrando a curvatura
dos seios.
- Na verdade eu só não resisti de te ver dormindo.
- Sim, e resolveu me acordar.
- É... – deitou-se de barriga para cima novamente, usando as
mãos para sustentar a cabeça, voltou a posição de antes, observando as estrelas
coladas no teto.
- Preocupado com algo?
- Não sei bem.
- Hum. Ta frio né?
- Quase nem sinto.
- Quer água?
- O que?
- Água.
- Não, obrigado.
Ela levantou-se sem
cubrir-se, no escuro do quarto pouquíssimo iluminado, saiu da cama e alcançou
na escrivaninha um copo de água. Ele olhou-a, nua, no meio do quarto, a pele
tão genuinamente branca como um pedaço de maçã suculenta. Parecia saída de
alguma pintura muito antiga. Piccasso, talvez. Os cabelos longos batendo na
cintura, de um castanho que por um tris não tornara-se ruivo. Bebeu da água com
sede e secou a boca com as costas da mão, soltando um suspiro de alivio, então
espiou pela janela e virou-se voltando para a cama.
Não sabia o quanto
ele a observava, mas ele ficou ali, olhando-a até que voltasse a se deitar. E
de súbito, talvez por um pequeno feixe de luz lá fora refletido e batido no seu
rosto, ela o flagrara.
- Que foi?
- Nada.
- Nada não, você
tava me olhando.
- Você é linda
sabia?
Se não estivesse
escuro a veria enrubescer nitidamente, e praguejou pela luz apagada, adorava
vê-la corar.
- Você também não é
nada mal. – disse ela jogando-se de volta para baixo das cobertas.
- Sabe, até alguns
dias atrás eu não pensava que isso podia acontecer.
- Bem, aconteceu não
é?
- É, mas e o seu
namorado?
- O que tem ele?
- Bem, o cara meio
que...
- Nós meio que
terminamos, tecnicamente ele...
- Meio?
[silêncio]
- Olha você não
gostaria de viajar?
- Viajar? Nanda, ta
louca?
- O que que tem,
podíamos fazer uma viajem para Fernando de Noronha. Seria incrível.
- Fernando de
Noronha?
- Não gosta?
- Até curto.
- Então, seria
incrível, podíamos pegar umas mochilas, pegávamos o carro do seu pai, seria
divertido.
- É, divertido...
Mas e o seu namorado Nanda?
- Pô Pedro, o que
tem ele?
- Sei lá...
Ela bufou impaciente
e aproximou-se dele beijando-lhe o peito e, rápido e bruscamente, beijando-lhe
a boca. Então beijou-o ainda mais. Sentia o gosto do brilho labial de cereja
dela, já impregnado na boca. Abraçou-a com força, apertando-a para próximo de
si e retribuiu o beijo. Era forte, daqueles beijos que parece que ficam retidos
dentro da gente todo tipo de magoa, todo tipo de coisas que a gente quer mas
sabe que não pode ter, então para não reprimir é no beijo que ofuscasse toda a
vontade. Foi mordendo-o o lábio que puxou-a ainda mais sobre si, afastando seus
cabelos com cheiro de chocolate para longe e beijando-a. A ideia era essa. E
não fora desde o começo?
Foi na cafeteria
de esquina, a viu lá no fundo, mas ultimas mesas com um livro aberto a sua
frente, bizarro e genial ao mesmo tempo, sobre a máquina do tempo, vestia uma
regata preta de uma banda louca, a pele de leite, os cabelos cacheados e
bagunçados, o lápis de olho azul turquesa e o anel de joana no dedo mindinho.
Teve vontade de morde-la ali mesmo. É claro que ela nem sabia quem ele era,
assim como até cinco segundos atrás ele não sabia quem ela era. Mas quem se
importa? Aproximou-se da mesa onde ela estava e perguntou sobre o livro, o
coração quase saindo da boca quando a viu morder o lábio carnudo, prender a
mecha dos cabelos atrás da orelha e toda confiante explicar toda a teoria da
relatividade de Einsten e o fator passado e futuro, coisas que até então ele
não estava nem um pouco afim de saber. Perguntou seu nome. “Fernanda, mas todo
mundo me chama de Nanda”. Ah sim, Nanda. Teve vontade de beijar Nanda ali
mesmo. Então ela disse, “puxa uma cadeira vai, não mordo”, e ele teve vontade
de morde-la ainda mais.
Nanda afastou-se,
as sardas parecendo dançar no rosto pelos feixes de luz que entravam no quarto.
- Gosto de você,
Pedro.
- Também gosto de
você.
- Ótimo.
“Ótimo”. Ela sempre
dizia ótimo, como se fosse um arremate em uma conversa solta. “Eu curto Pink
Floyd” “E eu prefiro Legião, mil vezes.” “Ótimo”. Era meio que costume seu,
mania. Assim como a sua mania de alongar o corpo todo depois de sair do banho,
ou quando usava saia e ficava o tempo todo olhando as pernas no espelho
observando se, na esperança, não haviam diminuído.
- Ótimo Nanda?
- Sei lá.
- Sei lá?
- Pedro, shh.
- O que houve?
Mas Nanda colocou o
dedo indicador na sua boca antes que terminasse a frase. E voltou a lhe beijar,
agora mais lento, mais tímido, tinha gosto de beijo de despedida. O tipo de
beijo que se da quando não se tem motivo mais para se procurar. Não parou o
beijo, sabia o que vinha depois. E não se surpreendeu ao sentir as mãos de
Nanda pelo seu corpo. Precisas, calmas e macias.
Não fazia sentido
pensar nela como uma forma de salvação.
Mas era.
Ali, perdido no quarto
dela, no centro da cidade, Nanda era sua única salvação. Era o momento real e
perfeito longe de todos os problemas. Odiava o namorado dela, mas se ela não
fazia cerimônia, então tudo bem. Tinha seu momento real e perfeito e procurava aproveitá-lo.
Até que voltasse para casa, deitasse em sua cama e ouvisse o burburinho da
capital lá fora rugindo para ele, perdido solitariamente.
Quando sentiu o
ápice de todas as emoções fustigadas na pele, pegou Nanda pelos pequeninos
braços e beijou-a delicadamente, até que a sentisse por inteiro. Mas sentir por
inteiro já era fato, ali, nus, deitados em uma cama, coisa mais intima do que
aquilo não seria mais possível. Talvez, se pegasse uma lupa e observasse além,
além das áureas e pensamentos do outro, enxergando as coisas mais duras e
frias, e feias e todos os poços escuros, então tornaria-se mais intimo.
- Pedro. Talvez
seja hora de você ir embora.
Ela sempre dizia
isso. Ela sempre falava assim, vezes doce, vezes autoritariamente, uma candidez disfarçada.
- Tudo bem. Mas posso voltar amanhã? Podíamos
pegar as bicicletas e ir até o parque, ou até aonde você quiser.
- Não sei. Amanhã a
gente vê. – deitou-se de bruços novamente, escondendo o rosto no travesseiro.
- Tudo bem.
Levantou-se
sentindo a rajada do frio pelo corpo. Vestiu as roupas e amarrou os sapatos.
Ergueu-se pela cama e inclinou-se para lhe deixar um beijo, mas seu rosto ainda
estava enterrado entre o travesseiro. O maldito travesseiro de cerejeiras. Será
que dormia? Analisou-a pela forma como sua coluna erguia-se, não parecia
dormir, o som da sua respiração era lento, mas não vazio de emoção.
- Vou embora.
- Cuide-se.
Cuide-se?
Caminhou até a
porta, parecia que de repente havia amarrado ambos os cadarços dos pés um no
outro, dificultando-o de caminhar.
- Sabe Pedro,
talvez seja bom a gente não se ver mais. Mas cuide-se ok? Nos vemos no show na
sexta que vem.
Quando olhou para
trás a viu sentada na cama, parecia triste, o lábio inferior tremia
involuntariamente, parecia te-lo mordido muito porque uma marca vermelha
circulava a boca até o queixo. A juba de cabelos bagunçada envolta do rosto
longo. Os seios redondos transparecendo pelo lençol azul.
- Está brincando?
- Não. Acho que
pode ser melhor assim. Só isso.
- Não pode simplesmente fazer isso agora.
Tinha noção do quão
patético estava, ali parado, com o cabelo bagunçado, a roupa amassada, os olhos
injetados, a voz tremula, implorando para ficar. Para permanecer.
- Entenda. Eu não
quero machucar você só isso.
- Está fazendo isso
agora.
- Pedro...
Saiu pela porta
fechando-a atrás de si. Quando deu por si, o ar cortante da noite já açoitava-lhe
o corpo, na rua, a quilômetros de casa. Não sabia que horas eram, olhou para o
céu, como se pudesse encontrar algum relógio dependurado acima da sua cabeça e
avistou-o com pouquíssimas estrelas.
Lembrou-se das
estrelas no teto do quarto de Nanda. Começou a caminhar. As pernas duras, o
corpo dolorido, parecia que a vida havia mudado de direção e tudo não fazia
mais sentido.
Lembrou-se de que
uma vez lera em um dessas revistas velhas do consultório dentário, uma revista
sobre astronomia, e na edição continha algumas coisas sobre estrelas. Leu
superficialmente, mas se recordava de ler sobre uma em especial, Eta Carinae,
gigantesca, magnífica, e letal em sua gama de luzes.
Eta Carinae.
Astronomia para ele
fazia tanto sentido quando o horário político local. Mas agora já não era mais
um assunto a ser descartado.
Enfiou as mãos nos
bolsos, sobre um céu quase limpo de tudo, em uma noite limpa, confusa,
deliberadamente estranha, seguiu caminhando pelas alamedas de ruas também
estranhas. Talvez em algum lugar do tempo, pudesse ter feito algo diferente,
agora já era tarde. Havia se apaixonado e sentia na pele as dolorosas faíscas
de luzes da enorme estrela, lambendo seu corpo, usurpando as réstias de
sanidade com seus raios ultra potentes e vorazes. Já não havia mais volta.
Annabel Laurino.
Eu Não Quero Ser a Mulher da Sua Vida
Não, eu não quero. E já deixo declarado o meu desinteresse por essa sua mania – e a mania de muitos – em me culpar por qualquer futuro errado que venha trair seus planos. Eu não quero esse peso todo do título ideal porque me dá dores de coluna e a minha postura sofre com isso todos os dias. Não, eu não quero carregar o estigma da importância taxada no peito. Enquanto algumas mulheres diriam que isso as torna relevantes, e importantes, e valorizadas. Eu. Eu mesma. Eu digo que isso não faz a menor diferença pra nós dois.
Não, eu não quero ser a tal pessoa da sua vida. Esse papel eu deixo pra sua mãe. Parece que você – e o resto do mundo – esqueceram que se apaixonar é bem melhor quando vem sem cobranças. E também parece que isso não é mais suficiente. Se não for pra ser da minha vida, nem precisa ficar. Vai embora. E vocês perdem tantas chances com essa ideia estúpida de que uma pessoa (e apenas essa única pessoa) tem lugar aí, no seu cantinho particular. É como se você tirasse da minha boca uma promessa que eu nunca fiz. E depois? Quem é que vai pagar a conta do analista pras suas expectativas frustradas?
Vai muito além de casamento, ou “pra sempre”, ou marca de aliança nos dedos. Só acho que esse cargo de chefia requer muita habilidade, responsabilidade e culpa. Sim, culpa. É como talhar a ferro e fogo uma marca detalhada na pele de alguém, que fica pelo resto da vida. Que não se perde facilmente. Não se perde, pra dizer a verdade. Ser a tal pessoa da sua vida é pisar de salto agulha na sua projeção equivocada de mim. Você, decepcionado. Eu, decepcionada por decepcionar você. É responsabilidade demais e não é que eu seja imatura ou infantil. Por mim basta que nos apaixonemos, ou que a gente tropece numa caminhada qualquer no parque e vá tomar um sorvete, ou que você me seja apresentado por aquela amiga e os olhares se cruzem. Só que você quer sempre mais que isso. É mais do que qualquer um pode dar.
Quando você não tiver mais nada para fazer, passa lá em casa. A gente junta as escovas de dente e isso não precisa significar nada demais. Eu sou uma dessas mulheres-folhetim do Chico, meu bem. Só digo sim. O seu trabalho é me manter interessada e ser mais seu do que meu. Eu posso ser seu rito de passagem, mas nunca vou poder ser o seu título perfeito. A mulher da sua vida.
Você correria o risco de ter seu crachá jogado no lixo, ou de desacreditar em segundos e terceiros amores. Não, eu não quero deixar que você se perca comigo e não perca o fôlego com outras. Nem quero que você se atreva a chorar copiosamente e escancarar portas de bares por minha causa. Outras virão. Outros verões também. E eu prefiro que você me identifique de outras formas e que me aproveite nas curvas, nas chuvas e nos momentos trôpegos do sexo. Se não quiser, eu te levo até o altar e te entrego de bandeja. Eu posso usar as suas camisas todas e deixá-las com cheiro de suor e perfume amadeirado. Eu posso até ser a sua mulher. Mas dispenso as credenciais.
Não, eu não quero ser a tal pessoa da sua vida. Esse papel eu deixo pra sua mãe. Parece que você – e o resto do mundo – esqueceram que se apaixonar é bem melhor quando vem sem cobranças. E também parece que isso não é mais suficiente. Se não for pra ser da minha vida, nem precisa ficar. Vai embora. E vocês perdem tantas chances com essa ideia estúpida de que uma pessoa (e apenas essa única pessoa) tem lugar aí, no seu cantinho particular. É como se você tirasse da minha boca uma promessa que eu nunca fiz. E depois? Quem é que vai pagar a conta do analista pras suas expectativas frustradas?
Vai muito além de casamento, ou “pra sempre”, ou marca de aliança nos dedos. Só acho que esse cargo de chefia requer muita habilidade, responsabilidade e culpa. Sim, culpa. É como talhar a ferro e fogo uma marca detalhada na pele de alguém, que fica pelo resto da vida. Que não se perde facilmente. Não se perde, pra dizer a verdade. Ser a tal pessoa da sua vida é pisar de salto agulha na sua projeção equivocada de mim. Você, decepcionado. Eu, decepcionada por decepcionar você. É responsabilidade demais e não é que eu seja imatura ou infantil. Por mim basta que nos apaixonemos, ou que a gente tropece numa caminhada qualquer no parque e vá tomar um sorvete, ou que você me seja apresentado por aquela amiga e os olhares se cruzem. Só que você quer sempre mais que isso. É mais do que qualquer um pode dar.
Quando você não tiver mais nada para fazer, passa lá em casa. A gente junta as escovas de dente e isso não precisa significar nada demais. Eu sou uma dessas mulheres-folhetim do Chico, meu bem. Só digo sim. O seu trabalho é me manter interessada e ser mais seu do que meu. Eu posso ser seu rito de passagem, mas nunca vou poder ser o seu título perfeito. A mulher da sua vida.
Você correria o risco de ter seu crachá jogado no lixo, ou de desacreditar em segundos e terceiros amores. Não, eu não quero deixar que você se perca comigo e não perca o fôlego com outras. Nem quero que você se atreva a chorar copiosamente e escancarar portas de bares por minha causa. Outras virão. Outros verões também. E eu prefiro que você me identifique de outras formas e que me aproveite nas curvas, nas chuvas e nos momentos trôpegos do sexo. Se não quiser, eu te levo até o altar e te entrego de bandeja. Eu posso usar as suas camisas todas e deixá-las com cheiro de suor e perfume amadeirado. Eu posso até ser a sua mulher. Mas dispenso as credenciais.
Daniel Oliveira in Casal Sem Vergonha
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Dialogando em uma tarde febril
- Eu, meiga?
- É, manhosa, sei lá.
- Mimada, então?
- Também. Enfim, eu gosto de
cuidar de você, de proteger você, é involuntário.
- Entendo.
- Mas talvez um dia você não vai
mais precisar disso, ou de mim, porque vai ter alguém que faça isso. E tu pode
gostar de verdade dessa pessoa.
- Eu acho meio dificil alguém me
aturar tanto e que eu vá gostar mesmo de alguém , assim, como tais
pensando. Minha cabeça não é pra isso. O
amor, e todas essas coisas, não são pra mim.
- É por isso que tenho medo por ti.
- Medo por mim, como assim?
- Sei lá, passar a vida não
querendo amar, ou amar um dia apenas e deu. Uma vida apenas com pessoas que te
distraiam, sem que você se apegue.
- Tens medo disso por mim? De eu
passar uma vida não amando ninguém e só 'pulando de galho em galho'?
- Isso.
- Sinceramente, não vejo
problemas. Mas, claro, talvez um dia eu ame alguém profundamente. Se caso existir
essa coisa de amar profundamente, aliás. E talvez eu nem suporte. Não sei.
Enquanto isso eu me distraio como posso, que problema tem?
- Tu acha mais fácil querer saber
do universo, química, biologia, leis da vida, planetas, estrelas e afins, que o amor.
- Porque parece um trilhão mais
simples.
- Você pensa assim, tão
despreocupadamente, por que amor não te falta, você se sente amada, sente que
tem amor, não precisa dele de verdade, não procura por ele.
- Talvez...
- Mas é bom amar. Ter ciúmes, se
preocupar, sofrer. Por que não? É bom isso.
- Não vejo como todo esse martírio
possa ser bom. Aliás, a palavra certa nem seria bom, talvez ‘irreversível’
fosse mais adequado, afinal, o cara se apaixona e não há mesmo o que fazer,
então tem que ver o lado positivo.
- Para com isso, seu pessimismo e irônia.
- Estou sendo sincera. Acho que
não é bom, é uma droga.
- É ótimo.
- Ótimo?
- É maravilhoso ouvir um ‘eu te
amo’. Ou dizer que ama alguém. E eu amo mesmo, sabes? Hoje mesmo, o motivo de
eu sorrir é você. Isso é a melhor coisa que alguém pode sentir.
- Hum. Então quer dizer que tu me
ama do jeito que achas ser de verdade?
- Estou com todos os sintomas,
pelo menos.
- Não entendo como isso aconteceu.
- Nem eu.
[silêncio]
- Vai ver foi carma, maldição de
família, praga de mãe, essas coisas.
- Ah certamente sim, e me sinto
muito amada agora, aliás.
[riram sem se olhar]
Annabel laurino and Andrei Escobar
Nuance descolorida tingida de saudade
Já percebeu como as nuances do final de um dia são sempre
encantadoras? Parece até que posso ouvir Frank Sinatra cantar ao fundo, junto
de Tom Jobim naquele balanço todo que sempre me deixa muito calma.
Why is everything so sad?
Não
entendo também. Mas nessas horas do dia, sempre parece, sempre. Vai ficando
apagadinho, o céu, os olhos cansados das pessoas, a paciência também.
Fiquei analisando
o tempo no relógio dependurado em cima da mesa por um longo e indeterminado
tempo. Deu uma saudade, uma saudade. Tenho sonhado tanto nos últimos dias e até
parece um martírio, um castigo. Sabe aquela sensação de acordar de um sonho
incrivelmente bom, com Beatles, anos 60 e tudo perfeito, o melhor sonho, a
coisa mais incrível do universo mas então você acorda, apalpa os travesseiros e
so sad but it was just a little dream.
Tenho apalpado
muito meus travesseiros nos últimos dias. E apalpo e apalpo, enquanto vou
despertando na esperança de que de repente, só para variar, um dia desses não
será um travesseiro e sim seu braço, seu peito ou seu rosto, quente e de pele
dourada e olhos negros que tanto sinto falta.
Meu Deus, como
sinto fala! E da uma saudade, chega a doer. É tão impossível e despretensiosamente
sem chance de te encontrar em qualquer curva de rua por ai que da mais
vontade ainda de te ver. Então eu sonho com você e tudo parece sem lógica, e
tem musica, tem jazz, blues, rock, luzes, poemas, tem amor, beijos, sol, uma ponte que cruza o infinito do impossível, praia, inverno,
neve e tem você, sim, sentado na minha frente como se fosse real dizendo
claramente “eu te amo” e tem eu, dizendo que eu também, sim, eu também!
Não sei por que
meu subconsciente faz isso comigo, ou se esse troço de subconsciente for tudo
mentira, por que eu faço isso comigo mesma. Já faz tanto tempo, tantos meses, e
parece que eu to sempre no mesmo lugar. É a mesma coisa que tentar correr sob
uma areia movediça. Centímetros a mais e eu acabo afundando, afundando cada vez
mais que eu me movo. E eu vejo você lá longe, fora dessa areia toda, tão
injusto, a vida pronta, seguindo em frente, sem mim, em algum lugar que não sei
mais onde é, não sei nem se você mudou de planeta, possivelmente sim, vai
saber.
Eu só queria
acordar e te ter aqui. Sei lá, olhando pra mim, dizendo que resolveu voltar,
bateu saudade também. O que que tem? Podia acontecer, sei lá. Então não seria
um sonho, só para variar. Seria real. E eu te contemplaria sobre um sol forte
de uma primavera cheia de calor, sentaríamos na varanda, te faria um chá, um
café para mim e perguntaria como anda a vida e me responderias com seu jeito
todo maduro, ponderado, educado e formal que ta tudo bem na verdade, mas só
falta eu, eu e minha bagunça organizada. Então me jogaria no teu colo, passaria
a mão pelos teus cabelos negros, olharia seus olhos que não me recordo negros,
castanhos avermelhados, dependendo do dia e tentaria dizer o quanto senti
saudades sem conseguir formular palavras porque a emoção seria forte, seria de
verdade.
Mas, sempre um mas,
o ‘mas’ é a palavra chave dos desconcertados e sem direção. Mas. Enquanto isso
eu me perco nesses dias que seguem e se transformam em meses e me esqueço, e
depois me lembro o quanto faz falta. Na verdade nunca esqueço, eu só me
distraio, contemplativa, observando as bilhares de nuances e conotações
típicas, seguindo a risca o padrão, sem nada de tão emocionante até que você
decida chegar.
E você vai chegar.
Não vai?
Ah! Why is everything so sad?
Annabel Laurino
;
"Alguma coisa incrível precisa acontecer logo, enquanto há tempo. Não suportarei esperar mais a eternidade desses próximos cinco minutos."
Marla de queiroz
;
"(...)E nós que morávamos um no outro, ficamos sem casa. Perdoe a falta de abrigo, é que agora eu moro no caminho."
Marla de Queiroz
terça-feira, 21 de agosto de 2012
;
Feche algumas portas... não por orgulho ou arrogância, mas porque já não levam a lugar nenhum.
Paulo Coelho
Nem um par calça todas
Ela lambeu os lábios e o avistou bem de perto, o nariz quase
que grudado na vitrine. Lindo, quanto mais se visto em uma vitrine na época de
Natal. Sim, na promoção, liquidação, 80% de desconto, para levar, sem juros.
Acessível. Ela havia namorado ele muitos dias, todos em que passava diante da
vitrine o via ali, exposto, tão caro e reluzente. Nunca pensara em comprar um
calçado daqueles porque não era assim tão confortável. E ela tão prática, finês e
pomposa, do estilo as clássicas, vezes gastando no vermelho e no rock, gostava
de algo mais sensual e ao mesmo tempo discreto, nada tão trabalhado, tão cheio
de voluptuosas. Mas naquele dia em si, não resistiu. Claro, estava ali, era só
passar a mão e levar, não tinha como resistir naquele momento. Ele todo pronto,
ela toda querendo. Era para ser.
Entrou na loja e, com
toda a pompa, pediu para que a vendedora o trouxesse. Sentou-se na cadeira ao
lado do espelho, ajeitou o cabelo, piscou os cílios repuxados, passou batom e
cheirou o pulso, perfumado. Tudo bem, parecia até que esperava pelo o encontro
da sua vida, e de certa forma era. “É agora, vou experimentar o bendito”,
pensou. Nossa, queria tanto ele que sentia seu coração se apertar, queria mais
do que muita coisa, era capaz até de sair correndo da loja com o par calçado
nos pés. Não entendia porque raios de motivo havia esperado tanto tempo para
decidir.
Cinco minutos e a
vendedora veio, saltitando em suas sapatilhas blassê, com a caixa dos sapatos
no colo, sorrindo feliz.
- Aqui – disse-lhe
a vendedora. Estendeu a caixa redonda, de laço vermelho do qual puxou a ponta e
abriu a caixa.
- É lindo! –
irradiou ela, tão cheia de perplexidade
- É mesmo. –
concordou de imediato a vendedora.
- Bem, vamos
provar!
Sorridente e
feliz, tirou suas sapatilhas confortáveis dos pés pequeninos e pegou o primeiro
pé do par de sapatos que tanto queria. O toque foi explêndido, maravilhoso,
melhor... melhor do que sorvete, melhor que cheiro de roupa limpa, melhor que
sexo... Não, não para tanto. Mas era incrível.
“Lá vamos nós.”,
pensou.
E calçou.
[Silêncio]
Oras, mas que estranho.
-Então, ficou bom?
- hã?
- O sapato, ficou
bom? Ah, caminhe, caminhe com ele e veja se é confortável.
Obedeceu.
[Mais silêncio]
Sentou-se tonta na
cadeira, meu Deus era trágico. A tragédia das tragédias. O calçado era
horroroso, ridículo, feio, feinho. Grotesco. Cor de rato. Era de um tecido
ruim, daqueles que marcam no pé, e sabia que era grosseiro falar assim, mas era
feio mesmo, muito feio. Ficara horroroso em seus lindos pesinhos pequenos. Era o efeito abóbora passada à mágica, só que acontecia com os sapatos, que não eram de cristal.
- E então?
- Não.
- Não?
- Não, não é para
mim.
- Não seja boba, é
para qualquer uma, ficou lindo em você. Ele é lindo.
- Não somos
compatíveis.
- Oras...?
- É, nada a ver. Ele
não combinaria com nenhuma roupa que eu tenho, e olhe para ele, não valoriza em
nada com o meu pé. – tirou o calçado dos pés, os ombros caídos, parecia ter
sido vencida pela 1° e 2° Guerra em massa.
- Não diga isso,
ficou realmente bom. Ele combina com tudo, veja bem, com calças sociais a
vestidos clássicos, como esse que está usando.
Olhou-se no
espelho, ainda com um único pé do calçado.
Não.
Sabia que não
fazia sentido, mas realmente não era bonito. Não nela.
- Com licença, mas
vai levar esse calçado? – perguntou uma moça esguia chegando-se de repente.
- Não, pegue. –
respondeu ela.
A moça esguia sentou-se
ao lado dela e calçou o bendito sapato.
[silêncio]
- Vou levar. –
sentenciou apressada que a vizinha ao seu lado mudasse de ideia e levasse o
sapato.
A vendedora
saltitante pegou a moça e encaminhou-a até o caixa.
Muito bem, foi melhor
assim, pensou. Agora não preciso mais me perguntar o que aconteceria se eu
tivesse experimentado.
Feliz, ajeitou os
cabelos, juntou a bolsa, e aprumou-se para sair da loja. Quando no final do
corredor, veja lá, um lindo par de
sapatos salto agulha, pretos, divinos de lindos, em veludo, revestido de couro,
magnífico.
Não sei, não
combina comigo...
Mas não sabia
explicar, queria, mas não queria. E por fim, sabia, queria muito.
Sussurrou uma voz: Experimenta.
Outro dia.
Ah vai, experimenta!
Tudo bem.
Annabel Laurino
;
"Paquerar é bom, mas chega uma hora que cansa! Cansa na hora que você percebe que ter 10 pessoas ao mesmo tempo é o mesmo que não ter nenhuma, e ter apenas uma, é o mesmo que possuir 10 ao mesmo tempo.
Nessas horas sempre surge aquela tradicional perguntinha: Por que aquela pessoa pela qual você trocaria qualquer programa por um simples filme com pipoca abraçadinho no sofá da sala não despenca na sua vida? "
— Luiz Fernando Veríssimo
;
"Eu nunca deixo mesmo claro o que eu tô sentindo. E fica parecendo que eu não sinto. Mas é incrivelmente triste quando desistem do meu mistério."
Verônica H.
;
Mas então eu queria muito. Porém o risco, o medo da falha, da descoberta, sim, da descoberta, porque era pequeno em sua forma e secreto de mais onde ninguém podia saber. Era esse o medo. Da descoberta. Dava certo anseio, fome, mais e mais sede e fazia parecer ainda mais gostoso. Dava uma descarga de adrenalina pelo corpo, brilhava a mente. Sabe quando ilumina a sua mente? Pois é, fazia a coisa ficar mais bonita, os dias ficarem melhores. Talvez porque eu tinha me encontrado nesse segredo, sim, eu tinha me encontrado de alguma forma. Mas então, sim, então, o risco era grande demais, e eu, que nunca fui romântica, sempre tão medrosa, soltei suas mãos e continuei a caminhar. A desculpa era que eu não servia, eu não sirvo, que eu não me encaixo bem.
Annabel laurino
Amor, Amor, um pouco de amor
Eu ainda não sei o que é o amor cara. Tenho bilhares de teorias, esboços grudados nas paredes do quarto, fórmulas cheias de explicações porém nenhuma corretamente aplicada. Luas e milhares de estrelas cruzaram no céu com seus bilhares de anos de antecedência e eu aqui tão atrasada, ainda não sei o que é o amor. E continuarei a não saber, se tudo depender desse mundo perdido, dessas pessoas perdidas de olhos velados e corações amordaçados.
Não há histórias de amor, romances lindos e exacerbados que expliquem esse sentimento incrivelmente invejado, odiado, questionado, e por ai vai. Mas eu, toda descabelada, sentada na minha humilde cadeira de um quarto qualquer, em um canto qualquer do mundo, tenho vontade de dizer um bocado de coisas sobre o amor para muitas pessoas que conheço e que provavelmente desconheço profundamente.
Coisas elementares, meu caro. Há quem pense que para chamar a atenção de uma pessoa tenha que fazer despertando o amor desta com implicações, com trejeitos, obrigações, brigas, ciumes, essas coisas todas que estamos cansados de ver nas novelas a quatro. Mas não é assim, não é assim meu bem. E é agora que eu rio desdenhosamente, afago seus cabelos de criança pirralha e pequena, e olho para você toda gentil, sentindo um bocado de dó pela sua ingenuidade. Amor a gente não desperta não. Amor a gente nem se quer faz crescer. Ele que cresce involuntariamente, ele vem, com o tempo, com os dias, com o resto dos sentimentos. Amor acho que é uma globalização de tudo. Há os grandes amores, os pequenos amores, os amores de uma vida toda, que você jamais esquece, e aqueles que duram um verão ensolarado e depois morrem.
Não gosto de amor criado, fantasiado por cima de afeto. Amor bom é aquele que a gente não pede, ele chega de mansinho com os braços do outro. Vem com a gentileza, o perdão pelas falhas, a aceitação do outro por ser quem a gente realmente é. Sem susto, sem medo. O amor acima das dores é lindo, quando suas doses diárias são devidamente engolidas à copos de água, mas o amor que sai do controle, vira dependência onde o individuo começa seus coquetéis diários substituindo a unica pilula somente, bem, ai a coisa vira crazy e passa de easy para so hard.
Mas quem sou para falar de amor? Oras, eu amo muita gente, as vezes eu amo até quem nunca pensará em me amar, mas não dói, é um amor tranquilo, pacifico. Amor a gente dá e não pede em troca. E claro eu sinto o amor voluntário de que assim como o amor manso, me aceita, me perdoa, me pega nos braços e me aceita de volta sempre.
Sou criatura perdida, vagando pelos cantos do mundo com minhas quiquilharias, meu violão sem corda completamente desafinado, achando lindo o ser desajeitado e a vida leve, a liberdade infinita. Tai uma forma de amor também. O amor pelos nossos valores, por quem a gente realmente é e não por quem a gente deve ser.
Não há histórias de amor, romances lindos e exacerbados que expliquem esse sentimento incrivelmente invejado, odiado, questionado, e por ai vai. Mas eu, toda descabelada, sentada na minha humilde cadeira de um quarto qualquer, em um canto qualquer do mundo, tenho vontade de dizer um bocado de coisas sobre o amor para muitas pessoas que conheço e que provavelmente desconheço profundamente.
Coisas elementares, meu caro. Há quem pense que para chamar a atenção de uma pessoa tenha que fazer despertando o amor desta com implicações, com trejeitos, obrigações, brigas, ciumes, essas coisas todas que estamos cansados de ver nas novelas a quatro. Mas não é assim, não é assim meu bem. E é agora que eu rio desdenhosamente, afago seus cabelos de criança pirralha e pequena, e olho para você toda gentil, sentindo um bocado de dó pela sua ingenuidade. Amor a gente não desperta não. Amor a gente nem se quer faz crescer. Ele que cresce involuntariamente, ele vem, com o tempo, com os dias, com o resto dos sentimentos. Amor acho que é uma globalização de tudo. Há os grandes amores, os pequenos amores, os amores de uma vida toda, que você jamais esquece, e aqueles que duram um verão ensolarado e depois morrem.
Não gosto de amor criado, fantasiado por cima de afeto. Amor bom é aquele que a gente não pede, ele chega de mansinho com os braços do outro. Vem com a gentileza, o perdão pelas falhas, a aceitação do outro por ser quem a gente realmente é. Sem susto, sem medo. O amor acima das dores é lindo, quando suas doses diárias são devidamente engolidas à copos de água, mas o amor que sai do controle, vira dependência onde o individuo começa seus coquetéis diários substituindo a unica pilula somente, bem, ai a coisa vira crazy e passa de easy para so hard.
Mas quem sou para falar de amor? Oras, eu amo muita gente, as vezes eu amo até quem nunca pensará em me amar, mas não dói, é um amor tranquilo, pacifico. Amor a gente dá e não pede em troca. E claro eu sinto o amor voluntário de que assim como o amor manso, me aceita, me perdoa, me pega nos braços e me aceita de volta sempre.
Sou criatura perdida, vagando pelos cantos do mundo com minhas quiquilharias, meu violão sem corda completamente desafinado, achando lindo o ser desajeitado e a vida leve, a liberdade infinita. Tai uma forma de amor também. O amor pelos nossos valores, por quem a gente realmente é e não por quem a gente deve ser.
Annabel Laurino
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
;
Às vezes me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resistência. Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse — e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado — a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou.
Caio Fernando Abreu
lá se vai o domingo
É, o domingo foi embora mesmo. Abandonou-me mais uma vez.
Juntou minha felicidade mais ardente e gostosa e amontoou em sua mala pesada
sem rodinhas, saindo arrastando-a pela porta. Lá se foram todos os meus planos
e desejos de final de semana. De ler muitos livros à dormir 32 horas inexistentes.
Muitas coisas planejadas e não cumpridas, mas o domingo valeu a pena, só para
constar. Teve aquele gostinho bom de acordar com a chuva fustigando na janela,
o almoço gostoso de domingo na mesa, sua mãe chamando por você, comer aquela
sobremesa cheirosa inventada na hora e que no fim acaba em sorverte com petit gateau, muito bom aliás. E Logo a ida na casa da amiga, as risadas, uma estudada
no material da semana, mais risadas, pipoca, assistir a séries de TV antigas,
conversar, depois vai ficando tarde, e mais tarde. E você volta pra casa, então
o domingo te surpreende.
Não sei a vocês,
mas meus domingos sempre parecem pequenos pedaços de bolos trufados com as
gotas de chocolate ao fundo, escondidinhas, esperando a mordida finale. E agora
que meu domingo acabou, que ele foi embora enquanto eu entrava no carro e
ligava o som, cantando aos berros ensandecidos e animados de Sunday Bloody
Sunday na voz de Sambô, batucando desajeitadamente nas pernas, ele ia indo aos
poucos. E terminou de ir quando eu gargalhava e abria os botões do short jeans
pela escapadela de uma pizza em final de domingo.
A vida é boa sabe?
É muito boa. A vida é ótima. E eu sempre acabo por entender isso nos finais dos
domingos. Quando o céu com suas nuances de nuvens parecendo uma massa suja de
glacê descolorido, as luzes da cidade, e o incerto tão incerto me esperando lá,
lá longe no final daquela curva que aponta adiante da sinaleira. Faz parecer
que a vida é uma só, entende? E que é para ser devidamente vivida, cantada,
curtida, degustada. Não sei qual é o seu jeito de morder um doce, de beber um
café, ou um chá que ama muito. Ou então sua maneira de ouvir aquela musica
predileta. Nos domingos eu fico sempre assim no fim. Vendo ele ir embora, tão
feliz e ao mesmo tempo meio down. Mas que me perdoem essa minha natureza meio nostálgica,
continuarei meu café, observando a segunda-feira chegar.
Annabel Laurino
sábado, 18 de agosto de 2012
;
Tão arrogantes: quem tem, afinal, o poder de salvar o outro de seus próprios abismos?
Caio Fernando Abreu
;
"[...] Agora, uma das causas pelas quais estou fora de lugar - durante anos tenho estado deslocado - é simplesmente porque tenho outras idéias, diferentes das desses senhores que privilegiam os sujeitos que pensam como eles."
Van Gogh - Julho de 1880.
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Laços da vida, café solitário e no entanto, tão transbordante
Perguntou-se então se haveria diferença expressa entre um elefante cor de rosa para um elefante azul. Não existiam tão pouco, mas contentou-se com a observação cravada na mente, e com uma lupa 3/4, de muita espessura, ou se grande fosse, resolveu, decidiu, engoliu o fato, diferença nenhuma havia. Porém perguntava-se porque, encabulada, jogada no sofá, numa sexta a noite, um livro de física ao lado e meia caneca de café fervendo na mão. Estou enlouquecendo, repetia. Insana, perdida, ainda não acredito em meus últimos feitos. Sorriu envergonhada, criança sapeca com a sujeira escondida embaixo do tapete favorito da mamãe.
Dava muito trabalho ser uma pessoa que não era. Codificar trejeitos, rede-codificar maneiras de se comportar e de sorrir, não conseguia mais. Estava gostando agora, dessa sua nova versão um pouco mais 'eu' de ser. Para que sofrer por amor se não há amor para se sofrer? Qual o sentido de se preocupar tanto quando tudo que você quer está nas suas mãos? Agarra logo a vida e não deixa ela escapar. Passou a ser sua nova filosofia. Telefone desligado, tudo bem, sozinha, mas era bom estar sozinha nas ultimas horas. Sempre alguém, com alguém, tantos alguens. De uns dias para cá, não sabia mais o que era ficar solitária por mais de oito horas, quando estava dormindo.
Tudo bem, faz parte. Reconsiderou. Se, o elefante azul fosse meu passado existencial, e o rosa no entanto meu futuro planejado, não há diferença em ambos, de modo algum. A diferença não esta nem mesmo nas cores. Quem poderia garantir que o azul em sua evolução futura como uma mescla de cor brilhante, difundindo em suas matizes não roseou?
Bebeu do café deliciada. Sim, era uma delicia estar no poder de sua própria direção. Lispector de repente tinha total razão. Liberdade é pouco, o que eu quero ainda não tem nome, pensou. Muito pouco. Um tanto sexy, um tanto low, um tanto gata manhosa, mesclada com seu charme de sempre, tão perdida, tão distrativa, tão pensativa, confusa, descabelada e só, bebeu seu café, pensando apenas no momento presente enquanto os laços da vida faziam por si só.
Dava muito trabalho ser uma pessoa que não era. Codificar trejeitos, rede-codificar maneiras de se comportar e de sorrir, não conseguia mais. Estava gostando agora, dessa sua nova versão um pouco mais 'eu' de ser. Para que sofrer por amor se não há amor para se sofrer? Qual o sentido de se preocupar tanto quando tudo que você quer está nas suas mãos? Agarra logo a vida e não deixa ela escapar. Passou a ser sua nova filosofia. Telefone desligado, tudo bem, sozinha, mas era bom estar sozinha nas ultimas horas. Sempre alguém, com alguém, tantos alguens. De uns dias para cá, não sabia mais o que era ficar solitária por mais de oito horas, quando estava dormindo.
Tudo bem, faz parte. Reconsiderou. Se, o elefante azul fosse meu passado existencial, e o rosa no entanto meu futuro planejado, não há diferença em ambos, de modo algum. A diferença não esta nem mesmo nas cores. Quem poderia garantir que o azul em sua evolução futura como uma mescla de cor brilhante, difundindo em suas matizes não roseou?
Bebeu do café deliciada. Sim, era uma delicia estar no poder de sua própria direção. Lispector de repente tinha total razão. Liberdade é pouco, o que eu quero ainda não tem nome, pensou. Muito pouco. Um tanto sexy, um tanto low, um tanto gata manhosa, mesclada com seu charme de sempre, tão perdida, tão distrativa, tão pensativa, confusa, descabelada e só, bebeu seu café, pensando apenas no momento presente enquanto os laços da vida faziam por si só.
Annabel Laurino
;
"Faz tempo que desconfio. Na última sexta-feira, tive certeza: devo mesmo estar enlouquecendo."
Caio Fernando Abreu
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
;
"Respiro, inspiro, perco o ar. Não, você nunca vai entender. É por isso que optei por dizer que eu não te amo mais. Assim: de forma bem clara, objetiva e sem justificativas pra não render. Me faça uma surpresa quando estiver indo embora de vez: não volte."
Lucas Simões
;
“Solidão prolongada me ensinou a ser exigente. Quando me tornei minha melhor companhia, só me apaixonei por pessoas absolutamente incríveis.”
Marla de Queiroz
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
;
Você vai perguntar: mas houve um erro? Bem, não sei se a palavra exata é essa, erro. Mas estava ali, tão completamente ali, você me entende? No segundo seguinte, você ia tocá-la, você ia tê-la. Era tão. Tão imediata. Tão agora. Tão já. E não era. Meu Deus, não era. Foi você que errou? Foi você que não soube fazer o movimento correto? O movimento perfeito, tinha que ser um movimento perfeito.
Caio Fernando Abreu
;
"Uma descarga elétrica, por favor! Meu coração enguiça só de ler o seu nome. Pílulas de autoestima para engolir de oito em oito segundos. Injeções de vergonha na cara. Removam aquelas noites da minha pele no grito, no tapa, na chacoalhada. Belisquem a minha burrice nove vezes, de cabeça pra baixo. Bife cru nos hematomas do meu amor próprio.
Nossa biópsia teve diagnóstico: relação maligna. A distância se amarrando ao tempo, como último recurso de uma cura. Nós em coma por muitas semanas, para que a sanidade combatesse a fantasia que criei. A eutanásia de um amor nunca devolvido.
Você não infecta mais a minha tranquilidade. Meus anticorpos, as recordações daqueles meses, abortando suas aproximações impulsivas e vazias. Boa notícia. Achei que morreria de você.
Não tem mais febre no rosto, quando você chega. Não tem mas arritmia, quando você fala comigo as mesmas palavras; o mesmo discurso; a mesma mentira; o mesmo eu, eu, eu. Não tem mais pontos frouxos do coração esgarçados pelo som da sua voz turista. Não tem mais tentativa de anestesiar o desconforto com embriaguez crônica e muita mão no copo ou no bolso ou no cigarro que tentei fumar; e luz fraca, para que você não radiografasse meu amor hemorrágico. Não tem mais o seu sorriso contaminando as minhas decisões."
Priscila Nicolielo (Texto Anticorpos que o Coração Cria; in Casal Sem Vergonha)
Sobre-viver
Insipidamente e quase sem aviso, levanta-se sobre mim uma áurea negra, feia, cheia de escamas e espinhos e coisas virulentas e bobas, preocupadas e sujas. Interpunha sobre meus sonhos tua face que não consigo mais ver, mas enxergo bem enquanto durmo e descarrego toda a falta que sinto no que não posso ter. Vem, lá do fundo, das réstias e raspas, de dentro de mim, uma vontade bem conhecida de destruir e consumir com tudo. Qualquer relação bonita, duradoura, aconchegante, belíssima, enfim. Já leu isso antes? Para mim é mais do que familiar, por que escorre além das veias sanguíneas, pulsa forte entre a essência de mim mesma.
Eu tentei ser correta, sei lá, agir como bem seguia o regimento da vida e continuar marchando até onde os bons fluidos levassem. Pensei que ia dar certo. Não sei, não deu antes daquela forma soberba e chata, tinha que dar agora dessa forma despreocupada e insana. E novamente não deu. Ainda continuo com os bolsos vazios, o coração pingando, encharcado de tanta mesmice desnecessária e promessas que nunca se cumprem. Não sei, mas acho mesmo é que desisto. Das pessoas, de tudo. Dessa forma minha de ser. Acho que chega aquele momento que estar dentro de si mesmo já não é mais um bom lugar para se estar. Por que fica tudo tão desconexo. Sem sentido. Em vão. Então para que? Não é mais fácil cortar tudo fora e não deixar nada do que observar uma pequena e frágil flor sobreviver esmorecida?
Eu preferiria que vivesse, você sabe, viver continuamente e crescer, criar ramos, florescer, e depois fechar-se e abrir-se nas primaveras da vida, sempre mais e mais bonita. Diga-me, que sentido tem em somente sobreviver e nada mais prosseguir além de sugar os sulcos de ar secos dentro das vertiginosas horas de um dia que nunca acaba e que possivelmente nunca chegou a começar?
Eu tentei ser correta, sei lá, agir como bem seguia o regimento da vida e continuar marchando até onde os bons fluidos levassem. Pensei que ia dar certo. Não sei, não deu antes daquela forma soberba e chata, tinha que dar agora dessa forma despreocupada e insana. E novamente não deu. Ainda continuo com os bolsos vazios, o coração pingando, encharcado de tanta mesmice desnecessária e promessas que nunca se cumprem. Não sei, mas acho mesmo é que desisto. Das pessoas, de tudo. Dessa forma minha de ser. Acho que chega aquele momento que estar dentro de si mesmo já não é mais um bom lugar para se estar. Por que fica tudo tão desconexo. Sem sentido. Em vão. Então para que? Não é mais fácil cortar tudo fora e não deixar nada do que observar uma pequena e frágil flor sobreviver esmorecida?
Eu preferiria que vivesse, você sabe, viver continuamente e crescer, criar ramos, florescer, e depois fechar-se e abrir-se nas primaveras da vida, sempre mais e mais bonita. Diga-me, que sentido tem em somente sobreviver e nada mais prosseguir além de sugar os sulcos de ar secos dentro das vertiginosas horas de um dia que nunca acaba e que possivelmente nunca chegou a começar?
Annabel Laurino
;
E enquanto eu olhava o céu limpo da cidade suja, interpunha entre nós seu primeiro muro de palavras. Confusas, atormentadas, sobre tudo e sobre nada: palavras amontoadas umas sobre as outras, como se amontoam tijolos para separar alguma coisa de outra coisa. Eu, mal sabendo que esse — que parecia seu jeito mais falso de ser — seria nas semanas seguintes seu jeito mais verdadeiro, às vezes único.
— Caio Fernando Abreu
— Caio Fernando Abreu
segunda-feira, 13 de agosto de 2012
;
Literatura é vida. Sou um escritor, mas meu compromisso principal é com a vida. Em todas as suas manifestações. Não acredito naquele tipo de cara que fica sentado entre livros enquanto a vida passa além da janela, sem que ele a toque. Os livros são importantes. Mas a vida é sempre muito mais. Literatura é também magia. Magia é aquilo que não compreendemos com a razão, e que no entanto existe.
— Caio Fernando Abreu
Fly Me to The Moon
Leve-me para a lua e
Deixe-me brincar entre as estrelas
Deixe-me brincar entre as estrelas
Deixe-me ver como é a primavera
Em Júpiter e Marte
Em outras palavras, segure minha mão
Em outras palavras, baby me beije
Encha meu coração com música e
Deixe-me cantar sempre mais,
Você é tudo que por muito tempo procurei
Tudo que eu venero e adoro
Em outras palavras, por favor seja sincera
Em outras palavras, estou apaixonado por você
Em Júpiter e Marte
Em outras palavras, segure minha mão
Em outras palavras, baby me beije
Encha meu coração com música e
Deixe-me cantar sempre mais,
Você é tudo que por muito tempo procurei
Tudo que eu venero e adoro
Em outras palavras, por favor seja sincera
Em outras palavras, estou apaixonado por você
domingo, 12 de agosto de 2012
go away
Tamborilou nervosa na tampa da mesa de vidro. As unhas
tingidas de rosa choque fazendo uma melodia agonizante. Bufou o ar pelos lábios
crispados, olhou aflita para fora da janela suja e empoeirada, passou a mão
pelos cabelos bagunçados e em desordem, os bagunçando ainda mais.
- Pare por favor, está me deixando nervosa só de lhe
observar.
- Não tenho culpa.
- Na verdade tem.
Ela baixou os ombros sentindo-se cansada, vazia, culpada.
- Talvez eu tenha então.
- Claro que você tem.
Olhou seu reflexo meio distorcido no vidro da janela. Sentia-se
boba, ali, sentada, naquela hora da noite, perdida em um sábado qualquer,
buscando qualquer coisa que a mostrasse uma direção que pudesse servir de
consolo, enquanto fugia das essenciais respostas que tentava evitar a muito
tempo. Analisou a linha dos cabelos, os fios em disparate, os olhos enérgicos
atrás dos óculos, a boca pequena torcida numa feição mais que aflita.
Suspirou mais uma
vez.
- Talvez seja culpa
minha mesmo... Talvez não, é minha culpa. Tentei fazer uma coisa nitidamente impossível
acontecer, só por que sou fria e ridiculamente egoísta, não prestei atenção nos
sinais claros de que tudo isso não daria certo.
[silêncio]
- Não sei o que
fazer. – sentenciou, confiando ao silêncio ambíguo do lugar, a dentro de si
mesma, uma verdade retumbante.
- Eu muito menos.
- Mas você precisa me
ajudar. Precisa me dizer o que acha.
- Acho que você está
louca. Acho que você tem problemas, sei lá. Eu não poderia ajudá-la, mas um
especialista talvez. Não me leve a mal, mas quero terminar esse meu bom drink descansadamente.
- Você quer é me
fazer chorar.
- Você não choraria.
- Está sendo
cruel...
- Estou sendo
realista.
- Acho que devo ir
embora.
- Lá vem você outra
vez...
- Falo sério. A
melhor coisa a fazer agora, talvez, seria sumir por uns tempos. Amenizaria
danos.
- Não, você
prolongaria o tempo dos danos acontecerem.
- Você está vendo de
uma forma errada.
- Conte-me mais
senhorita “preciso fugir”
- Não é fugir. É só
acabar com tudo de uma vez, vai doer muito, mas não machuco mais ninguém.
- Ah.
- Olhe para mim, eu
nem sou bonita, sou só uma mulher carente, iludida, criança, mimada, sem coração
e mortalmente cruel. Não tenho nada a oferecer a ninguém. Estou vendo-me muito
claramente agora, e tudo que eu vejo não me agrada. – encarou-se na tampa de
vidro frio da mesa, seu reflexo batia contra a luz do abajur ao lado e
refestelava em seus olhos. Não a agradava.
- Você tem problemas.
- Eu sou o problema.
- Tome um drink.
- Não sou segura bêbada.
- Eu te asseguro de
qualquer coisa, bebe, deixa de ser chata.
- Preciso ir embora.
Dispensou o drink. Dispensou
mais um olhar aflito ao seu próprio reflexo no tampo da mesa, dispensou a
cantada do cara mais velho da mesa ao lado, levantou-se deixando a mesa que
estava vazia, juntou a bolsa e disparou para a porta. Iria embora.
Annabel Laurino
;
Queria dizer tanta coisa, mas roubaram-me a voz, apontaram em mim meus discretos defeitos gigantes, fizeram-me mais baixa, mais frágil, quedavel. Arrumei a cama e olhei tristonha os travesseiros em pilha, jogaria-me sobre eles e deixaria-me por ser engolida, logo, dormiria. E pelo pequeno feixe de sol risonho no céu de um domingo, eu descobriria triste que dessa vida pouca coisa a gente entende.
Annabel Laurino
A Deus dará
Meu individualismo
foi tão grande e de tamanho afeto que me arrobou. Cansada, criança pequena e
carente, desperdicei minhas chances com você, vendei meus olhos incertos e
desliguei minha mente insegura, andei passos de bêbada entre carros apressados
de uma avenida ensandecida. Desagrada-me o triste ritmo e rumo que as coisas,
nossas coisas, tomaram. Nos tornamos estranhos hablando uma língua
desconhecida, desconexa, confusa. Tínhamos tudo e resolvemos ter
nada.
Acho
que não me entendes quando dizes que me entendes. E me perdes quando dizes que
queres me ter. E assim, me ganhas quando dizes não me querer mais. Sem lógica,
banal, to sem voz para continuar a falar, a explicar mais uma vez que nada na
minha mente muito pequena, às vezes ampla, pouca coisa passa batido. Não sei
que rumo tomar. Tento desenhar desenhos em quadros para que você possa me
entender, me salvar dessa fuga inimaginária e você só me joga rumo ao vento,
deixando-o lançar meus cabelos para o alto, sussurrar irresistível nos meus
ouvidos e me mostrar a direção contrária. Distrativo. Me distraio fácil. E você
disse, 'tudo bem'. Aprumei as velas, quando vi, feito barquinho a Deus dará
em alto mar , ondas grandes, e a casa? E a vida certa? E o caminho de
volta? Perdida, suspirei mais uma vez. Você já estava longe, e eu, muito
mais. Nos perdemos.
Annabel Laurino
sábado, 11 de agosto de 2012
;
"Não é medo, preguiça ou incapacidade de amar. Eu só preciso de uma coisa nova, viver coisas que não me perturbem."
Gabito Nunes
Gabito Nunes
sexta-feira, 10 de agosto de 2012
sede
Mais um daqueles momentos dispersos onde a verdade, a razão, o desejo, o correto, o incorreto, o medo, a fome, o vicio, se difundem num só olhar destemido, cheio de sede. Tudo vira sede no fim. Você sabe, a fome é meio que sede, porque seca. Seca a gente por dentro, por fora, e secos de amor meio que piramos. A sede é uma forma de fome, uma enorme falta de tudo que não temos mais, ou que temos mas está longe, ou que já tivemos um dia e hoje, não temos mais. Esse é mais um daqueles momentos desenhando pássaros nas paredes do quarto e querendo criar asas longas para poder voar longe, além das paredes azuis. Vontade de recriar nos únicos braços que se sente falta um lugar eterno onde pudesse regressar sempre, como um ninho seguro, cheio de paz, comida, e segurança. Mas então a verdade vem como uma onda, e sabe-se que o ninho será derrubado pelo vento, ou que a arvore que o sustenta despencará, dia ou outro. Sabe-se também que nada é para sempre, e nesse desespero que me acrescenta minha sede só aumenta. Minha sede. Por ti.
Annabel Laurino
Dear
Sei lá o que é isso. To aqui de novo com as mãos atadas,
tomando café quente, fervendo sem sentir nem mesmo a boca formigar em protesto.
To escutando aquela musica dramatississima que você coloca sempre que quer
chamar minha atenção por que sabe que eu choro escutando ela, por que sabe que
ela tem tudo a ver com a gente, com nosso passado de um ano atrás. Ah mas eu
não sei o que fazer. Sério mesmo, não te minto. Eu nem mesmo entendo quem ou o
que é você. Só sei que não resisto a alguma coisa que tem em você. Meu
psicólogo disse que é química, mas estou pensando que pode ser algo muito mais
pesado, tipo física, matemática, espiritismo, química, astronomia e por ai vai.
Ver você naquela roupa de nerd saída de um filme americano com o sorriso torto,
os lábios grossos, as mãos que eu gosto, o cheiro que eu amo, da vontade de te
morder. E eu fico pressa em mim mesma gritando comigo, dizendo, para sua louca,
ele não é para você, para quieta, segura o facho, senta ai, cala a boca, não
toca nele, não respira, para, não, não puxa ele, não, não abraça, sai de
perto... Mas já era. Lá estou eu com meu sorriso de criança carente te pedindo
um minúsculo bocado de sua atenção, suplicando por um beijo, por uma réstia do
teu gosto que eu guardo sempre como uma criança obesa escondendo doces embaixo
da cama.
Acho que não é
falta de amor não. Amor eu tenho de sobra. Todos nós temos. Minha falta é você,
que colou em mim e sei lá, camuflou, virou uma parte minha, se uniu a mim, a
minha parte feia, minha parte bonita. Não sei, ta complicado. Mas to
despreocupada. Por mim tudo bem, sei que dói, sim dói bastante, mas já entrei
nessa a muito tempo, só estava querendo cavar um buraco para os lados desse
túnel que já estou trancada a tempos. Tanto faz. Amor da minha vida, paixão desenfreada,
daqui até a eternidade. Te quero sempre muito bem, de preferência embaixo
desses meus olhos embaçados que julgo castanhos. Milhares de beijos para você,
meu bem.
Annabel laurino
;
Desorganizaram-se e de repente um não sabia mais onde estava o outro, levaram alguns segundos para localizar-se outra vez, os olhos de cada um lendo no rosto do outro o que ainda não tinham decifrado no próprio olho.
Caio Fernando Abreu
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
;
"A expectativa é como pegar um jacaré para domesticar e esperar que ele o abane a cauda quando você chegar em casa após mais um dia de trabalho."
Gabito Nunes
;
Porque o tempo passado, filtrado pela memoria e refletido no tempo presente – agora –, parece sempre melhor. E terá mesmo sido?
Caio Fernando Abreu
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
;
"Mas eles não voltarão. Seria bonito, e as coisas bonitas já não acontecem mais."
Caio Fernando Abreu
terça-feira, 7 de agosto de 2012
domingo, 5 de agosto de 2012
Namore uma Garota que lê...
Namore
uma garota que gasta seu dinheiro em livros, em vez de roupas. Ela também tem
problemas com o espaço do armário, mas é só porque tem livros demais. Namore
uma garota que tem uma lista de livros que quer ler e que possui seu cartão de
biblioteca desde os doze anos.
Encontre uma garota que lê. Você sabe que ela lê porque ela sempre vai ter um livro não lido na bolsa. Ela é aquela que olha amorosamente para as prateleiras da livraria, a única que surta (ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo uma garota estranha cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Essa é a leitora. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.
Ela é a garota que lê enquanto espera em um Café na rua. Se você espiar sua xícara, verá que a espuma do leite ainda flutua por sobre a bebida, porque ela está absorta. Perdida em um mundo criador pelo autor. Sente-se. Se quiser ela pode vê-lo de relance, porque a maior parte das garotas que leem não gostam de ser interrompidas. Pergunte se ela está gostando do livro. Compre para ela outra xícara de café.
Diga o que realmente pensa sobre o Murakami. Descubra se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entenda que, se ela diz que compreendeu o Ulisses de James Joyce, é só para parecer inteligente. Pergunte se ela gosta ou gostaria de ser a Alice.
É fácil namorar uma garota que lê. Ofereça livros no aniversário dela, no Natal e em comemorações de namoro. Ofereça o dom das palavras na poesia, na música. Ofereça Neruda, Sexton Pound, cummings. Deixe que ela saiba que você entende que as palavras são amor. Entenda que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade mas, juro por Deus, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ela conseguir não será por sua causa. É que ela tem que arriscar, de alguma forma. Minta. Se ela compreender sintaxe, vai perceber a sua necessidade de mentir. Por trás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. E isto nunca será o fim do mundo.
Trate de desiludi-la. Porque uma garota que lê sabe que o fracasso leva sempre ao clímax. Essas garotas sabem que todas as coisas chegam ao fim. E que sempre se pode escrever uma continuação. E que você pode começar outra vez e de novo, e continuar a ser o herói. E que na vida é preciso haver um vilão ou dois.
Por que ter medo de tudo o que você não é? As garotas que leem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem.
Se você encontrar uma garota que leia, é melhor mantê-la por perto. Quando encontrá-la acordada às duas da manhã, chorando e apertando um livro contra o peito, prepare uma xícara de chá e abrace-a. Você pode perdê-la por um par de horas, mas ela sempre vai voltar para você. E falará como se as personagens do livro fossem reais – até porque, durante algum tempo, são mesmo.
Você tem de se declarar a ela em um balão de ar quente. Ou durante um show de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Ou pelo Skype.
Você vai sorrir tanto que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ela vai apresentar os seus filhos ao Gato do Chapéu [Cat in the Hat] e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto você sacode a neve das botas.
Namore uma garota que lê porque você merece. Merece uma garota que pode te dar a vida mais colorida que você puder imaginar. Se você só puder oferecer-lhe monotonia, horas requentadas e propostas meia-boca, então estará melhor sozinho. Mas se quiser o mundo, e outros mundos além, namore uma garota que lê. Ou, melhor ainda, namore uma garota que escreve.
Encontre uma garota que lê. Você sabe que ela lê porque ela sempre vai ter um livro não lido na bolsa. Ela é aquela que olha amorosamente para as prateleiras da livraria, a única que surta (ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo uma garota estranha cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Essa é a leitora. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.
Ela é a garota que lê enquanto espera em um Café na rua. Se você espiar sua xícara, verá que a espuma do leite ainda flutua por sobre a bebida, porque ela está absorta. Perdida em um mundo criador pelo autor. Sente-se. Se quiser ela pode vê-lo de relance, porque a maior parte das garotas que leem não gostam de ser interrompidas. Pergunte se ela está gostando do livro. Compre para ela outra xícara de café.
Diga o que realmente pensa sobre o Murakami. Descubra se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entenda que, se ela diz que compreendeu o Ulisses de James Joyce, é só para parecer inteligente. Pergunte se ela gosta ou gostaria de ser a Alice.
É fácil namorar uma garota que lê. Ofereça livros no aniversário dela, no Natal e em comemorações de namoro. Ofereça o dom das palavras na poesia, na música. Ofereça Neruda, Sexton Pound, cummings. Deixe que ela saiba que você entende que as palavras são amor. Entenda que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade mas, juro por Deus, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ela conseguir não será por sua causa. É que ela tem que arriscar, de alguma forma. Minta. Se ela compreender sintaxe, vai perceber a sua necessidade de mentir. Por trás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. E isto nunca será o fim do mundo.
Trate de desiludi-la. Porque uma garota que lê sabe que o fracasso leva sempre ao clímax. Essas garotas sabem que todas as coisas chegam ao fim. E que sempre se pode escrever uma continuação. E que você pode começar outra vez e de novo, e continuar a ser o herói. E que na vida é preciso haver um vilão ou dois.
Por que ter medo de tudo o que você não é? As garotas que leem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem.
Se você encontrar uma garota que leia, é melhor mantê-la por perto. Quando encontrá-la acordada às duas da manhã, chorando e apertando um livro contra o peito, prepare uma xícara de chá e abrace-a. Você pode perdê-la por um par de horas, mas ela sempre vai voltar para você. E falará como se as personagens do livro fossem reais – até porque, durante algum tempo, são mesmo.
Você tem de se declarar a ela em um balão de ar quente. Ou durante um show de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Ou pelo Skype.
Você vai sorrir tanto que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ela vai apresentar os seus filhos ao Gato do Chapéu [Cat in the Hat] e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto você sacode a neve das botas.
Namore uma garota que lê porque você merece. Merece uma garota que pode te dar a vida mais colorida que você puder imaginar. Se você só puder oferecer-lhe monotonia, horas requentadas e propostas meia-boca, então estará melhor sozinho. Mas se quiser o mundo, e outros mundos além, namore uma garota que lê. Ou, melhor ainda, namore uma garota que escreve.
Date A Girl Who
Reads – Rosemary Urquico
;
Você não é previsível.
Ninguém é. Previsível é uma palavra que se encaixa para uma pedra, um galho
seco, uma mosca morta, um punhado de terra acumulada do sapato, essas coisas. Previsível
é qualquer coisa sem vida, que não fala, não se move. Imprevisíveis somos todos nós que vivemos em
movimento, constantemente, e que mudamos de pensamento a todo segundo. Quem
sabe onde podemos estar amanhã? E seu eu fizer as malas, abrir a porta e simplesmente partir? Ou se não? O fim desse argumento pode ser típico para você,
surpreendente, ou até mesmo interessante. Posso arrematá-lo com
rosas, floreios, ou uma simples conclusão. Quem pode garantir? Se não for hoje,
amanhã então, a gente se encontra, se senta numa mesa qualquer, toma um café,
se olha, se admira, conversa, ou não, ficaremos quietos. Quem sabe a
gente nunca mais se vê, sumiremos. Quem pode saber?
Annabel Laurino
Assinar:
Postagens (Atom)